Maurício Miléo
mauriciomileo@outlook.com
No dia 9 de setembro, a Universidade Presbiteriana Mackenzie recebeu a visita de Marcos Pontes, ministro de Ciência e Tecnologia, que proferiu palestra para alunos da Engenharia. Primeiro – e até agora único – brasileiro a ir para o espaço, Pontes fez discurso motivacional em que ressaltou a importância de se persistir nos sonhos apesar das dificuldades colocadas pela realidade. Conforme o site de notícias da Universidade, o ministro declarou: “apesar da situação atualmente não estar fácil em termos de orçamento, vai melhorar! Eu já passei por muito aperto na minha vida também, e o que sempre me manteve na direção do meu sonho foi acreditar que ia dar certo”.
Não é de hoje que Marcos Pontes tem trocado a ciência propriamente dita, pelos discursos motivacionais. Quando voltou de sua viagem de pouco mais de uma semana no espaço, em 2006, o astronauta recusou o posto de herói nacional da ciência para então se dedicar ao ofício ora na moda: o de coach. Na época, sua decisão de entrar imediatamente para a reserva da Aeronáutica e de não colaborar com o Programa Espacial Brasileiro causou protestos de diversos partidos no Congresso Nacional, do poder executivo e dos próprios militares, que esperavam melhor aproveitamento dos recursos investidos. Poucos anos depois, Pontes publicou seu livro É Possível! Como transformar seus sonhos em realidade. Não era exatamente a contribuição com que o Ministério da Ciência e Tecnologia e a AEB – Agência Espacial Brasileira – esperavam contar naquele momento.
Atualmente, Marcos Pontes cumpre exatamente a função que o Palácio do Planalto lhe reservou: emplumar o discurso e desacreditar as ações práticas. É dessa forma que o ministro se exime de responsabilidade no corte orçamentário de 42% de sua pasta e lança ao futuro incerto a resolução dos problemas da pesquisa tecnológica no país. Sobre os cortes nos recursos das bolsas do CNPq, anunciados no início desse mês, Pontes se
limitou a dizer: “não depende mais de mim”. Embora reconheça o drama pelo qual passa seu Ministério, o astronauta segue apostando nos sonhos, enquanto 81 mil pesquisadores bolsistas se veem cada vez mais impedidos de sonhar.
No início do mês, a pedido de Bolsonaro, Marcos Pontes exonerou o diretor do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – após o instituto ter divulgado dados de alerta de aumento do desmatamento da Amazônia. Para o lugar do ex-diretor, o governo nomeou um militar, a exemplo do que tem sido feito em diversos órgãos e instituições federais. O ministro demonstra, assim, que sua indicação para a Ciência e Tecnologia, antes de ser um atestado de despreparo e um improviso do governo, é na verdade parte de uma política orientada a desestimular a pesquisa tecnológica no país. Para um governo que desautoriza a ciência, nada mais adequado do que um cientista que igualmente a despreza.
Enquanto o Brasil segue na contramão da tendência histórico-mundial de investimento em tecnologia, apostando, em vez disso, na retirada de entraves à reprimarização da economia, o ministro da Ciência e Tecnologia conclama estudantes e pesquisadores a acreditarem nos seus sonhos. Em sua bola de cristal, Marcos Pontes observa um país em que investimentos privados virão lhe socorrer. Ao mesmo tempo em que a Amazônia queima e descarta no espaço os sonhos de um futuro alicerçado no avanço científico e no bem-estar dos brasileiros, estes, convertidos novamente a escravos, seguem instados a celebrar, patrioticamente, a doença Brasil.

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