Por Lucas Morimoto da Silva – 3° semestre (morimotolucas@gmail.com)
É caricata a forma que descrevem, nós, estudantes de direito. Tenho certeza, caro leitor, caso faça parte desta “classe” sonhadora, batalhadora e idealizadora, já deve ter passado por várias piadas em seu ciclo de amigos, familiares ou até mesmo desconhecidos em nosso dia a dia. Desde piadas sobre como somos carregadores de livros, “viciados” em usar roupa social e de que respondemos tudo com “depende” (mesmo sendo verdade) existem algumas perguntas que são recorrentes e, dentre todas elas, destaco a mais popular:
“Por que você escolheu fazer direito?”
Sempre que me fazem esta pergunta uma imagem de minha infância vem a minha mente. Consigo me ver sentado no banco de trás do carro de meus pais, numa daquelas viagens de carro que todos já fizemos, me imaginando no futuro. Neste hipotético visto um terno preto, engravatado e segurando uma pasta 007, mas não é só essa imagem que me motiva a encontrar uma resposta a pergunta citada. Lembro principalmente de uma música muito escutada e cantada pelos meus pais.
“Como nossos pais” é uma composição de um grande ícone da música popular brasileira, Antônio Carlos Belchior. Esta, muito tocada nas rádios nas épocas de ouro das composições brasileiras, mesmo possuindo um grande viés de resistência a ditadura militar de nosso país, hoje, após tantas aulas sobre hermenêutica, permite-me uma análise comparativa com nossa atual geração de estudantes de direito e, principalmente, futuros juristas.
“Não quero lhe falar
Meu grande amor
Das coisas que aprendi
Nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo”
Nossa geração, principalmente os millennials, somos muito dinâmicos e necessitamos de fatos empíricos. Muitas vezes, não conseguimos aceitar apenas um texto de lei como “aula dada”. Vejo por meus colegas de turma que, ao aprendermos alguma nova terminologia da dogmática, precisamos de exemplos. Não queremos falar do que aprendemos nos “discos” repetitivos das salas, queremos mais, queremos compor nossa própria canção.
“Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa”
Um dos grandes problemas de nossa geração são transtornos causados pela ansiedade, pressão e até mesmo a “temida” depressão que, infelizmente, ainda é um tabu. Acredito que nenhuma das gerações, seja de nossos pais, avós, bisavós e anteriores, passou por tantas transformações. A globalização facilita nossos sonhos, sejam eles de termos um estágio nos grandes escritórios que sabemos os nomes de cor e salteado, ou até mesmo de virarmos ministros de um certo Superior Tribunal Federal. Mesmo assim, precisamos encarar a grande dureza, existe um caminho a perseguirmos antes de nos tornarmos os próximos “Kelsens” ou “Marias Helenas”. Não obstante, o amor é algo muito importante, seja em nossas relações amorosas quanto em nossa faculdade ou em nossas verdadeiras paixões, mas será que temos nos entregado verdadeiramente a ele?
“Por isso cuidado, meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado pra nós
Que somos jovens”
Eu poderia muito bem, neste momento, evocar um discurso referindo-me aos problemas de nossa atual política brasileira, mas deixá-la-ei falar por si só no Twitter. Sinto que a metáfora do sinal fechado também é presente no meio jurídico. Quantos de nós já não fomos frustrados por recusas em processos seletivos por, as vezes, não nos encaixarmos no padrão? Por não termos 30 anos de experiência em 6 semestres de aula? O direito que nossos pais e avós viveram moldavam juristas, defensores e repetidores dos ideias da divindade dikéniana, mas nós… Será que temos que seguir estes moldes e fecharmos sinais para nossos “bixos e bixetes” que ainda estão por passar pela entrada da Consolação?
“Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção”
Será mesmo que temos que seguirmos a magistratura ou a advocacia para sermos felizes? É surpreendente a quantidade de olhares tortos que vejo quando digo que sonho em ser professor. No começo me sentia afetado por não possuir “apoio” de muitas pessoas de meu dia a dia. Sinto muita sorte por ter pais e familiares que me apoiam em qualquer decisão, mas sei que muitos não tiveram tanta sorte assim… Seja no direito ou qualquer outra área, continue encantado por essa nova invenção. Não desista, você nasceu para isso.
“Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais”
Pulo agora várias outras estrofes tão belas que, se eu pudesse, escreveria meu TCC sobre, mas pretendo encerrar esta “crítica” rápida. De qualquer maneira, se você não é minha mãe e já leu até aqui, obrigado, e mãe, te amo.
Eu discordo do compositor nordestino neste momento. Não vejo que, sermos como nossos pais seja uma dor. É belo percebermos que, felizmente, muito de nós vem deles. Pela primeira vez, somos a geração que vem quebrando paradigmas e escrevendo de formas coloridas nossa própria história. Nossos pais também já foram jovens, SIM! já saíram, namoraram, estudaram, viveram, contaram histórias, jogaram jurídicos… Mas será que eles viveram o presente deles? Será que eles realizaram seus verdadeiros sonhos, mesmo os mais loucos? Será que se entregaram a suas novas invenções? Não sei, mas sei que, ainda há tempo para nós fazermos e realizarmos tudo isso.
Agora, finalmente, respondendo a pergunta inicial deste texto. Escolhi fazer direito porque… Porque sinto que a mudança começa em algum lugar, sinto que, se quisermos quebrar as amálgamas que nos prendem ao passado, devemos tentar fazer por onde no presente para brilharmos em nosso futuro e, principalmente, por sermos como nossos pais, e por termos sonhos tão bonitos, devemos realizá-los, não deixá-los guardados numa gaveta.
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