Por Anita Araújo
Em memória de Zulu (2016-2022)
É difícil pensar em um momento da minha vida em que não tive um animal de estimação. Na fazenda em que morei tinha vários cachorros, cujos nomes foram escolhidos pela minha mãe: Branquela, Uísque, Maguila, Xuxinha e Lassie. Eu tinha um grande apreço pela Xuxinha, cadelinha velha e cega que uivava se fingíamos choro, e não consigo deixar de me sentir mal por ela não ter ficado comigo quando meus pais se divorciaram.
Por volta dos cinco ou seis anos, ganhei um poodle fêmea que chamamos de Dominique. Quando a minha mãe, meu irmão mais velho e eu fomos para Patrocínio, em agosto de 2008, ficamos na casa da minha avó materna até alugarmos o nosso cantinho. Acontece que, por algum motivo, Dominique não podia ficar lá, tendo sido decidido que ela iria morar com minha tia Márcia.
Enquanto não nos mudávamos, esse assunto virou tema de diversas discussões entre mim e minha prima Larissa. Pasmem, leitores! A garota dizia que a cadelinha lhe pertencia porque estava morando com ela! Nós brigávamos por isso sempre que eu ia visitar MINHA DOMINIQUE e o resultado era sempre o mesmo: choro e mais choro. Infelizmente, ela não durou muito depois de vir morar conosco; Dominique adoeceu e, sem o devido tratamento veterinário, ela estava morrendo diante dos meus olhos. Certo dia, quando fui ver como estava, encontrei-a imóvel.
Depois do que ocorreu com a Dominique, ganhei o Fred, que foi doado para um amigo quando fomos para uma casa nova, e depois a Magali, que ficou em Patrocínio quando fui para Coromandel. Eu me sentia extremamente impotente por, sendo muito nova, não ter controle sobre o destino dos meus companheiros peludos: se adoeciam, eu não tinha condições financeiras ou de mobilidade para levá-los ao veterinário e eles eram tirados de mim com muita facilidade.
Acho que foi em 2018 quando convenci meu pai a me dar um Dachshund, que ganhou o nome de Costelinha. Ele foi responsável por destruir inúmeros chinelos (mania que meu gato adquiriu), roupas e cobertores, sendo que, mesmo depois de ganhar uma manta que ele podia destruir, o salsicha não perdoa um cobertor que esteja dando sopa. Nas voltas de carro, o metido não se contentava em ficar no banco do passageiro. Ele queria sentir a brisa no colo do meu pai, enquanto este dirigia o Fiat Uno quadrado. Nem mesmo minha avó paterna, a dona Bela, alguém que não era tão chegada a dar carinho nos bichos, resistiu aos encantos do Costelinha. Inclusive, ele mora com ela agora que estou em São Paulo. Sinto muita falta dele, mas sei que ele teria se tornado um cão deprimido na kitnet minúscula em que vivo.
Meus pais discordam entre si em 99% das coisas, contudo, por muito tempo, eles compartilharam da aversão por felinos, razão pela qual eu não tive um gato durante a infância. Certa vez, até convenci meu pai de cuidar de um filhotinho que foi rejeitado pela mãe durante o fim de semana, mas foi isso, só sábado e domingo com a bolinha de pelos. Então, em novembro de 2020, talvez como presente por ter ingressado no Mackenzie, meu pai me chamou ao portão de casa, onde um casal segurava uma gata tricolor. Eu a peguei desacreditada, o coração errava as batidas de tanta alegria. Dei a ela o nome de Mingau.
Desde o primeiro instante Mingau foi muito carinhosa, ronronava o tempo todo e dormia próxima a mim e não tinha medo do Costelinha. Pelo contrário, ele tinha medo dela. Ela miava implorando para entrar no quarto da vovó Bela, adorava dormir dentro das gavetas de roupas e amava ficar observando os pássaros. Foi em junho de 2021 que percebi que a sua respiração estava estranha, como se estivesse ofegante. Levei-a ao veterinário e ela deu positivo para FeLV (vírus da leucemia felina).
A princípio, acreditava-se que ela estava com uma pneumonia que não passava por causa da leucemia, mas quando a levei para consulta em outra clínica, realizaram uma drenagem nos pulmões de Mingau. O líquido foi enviado para análise e seu resultado apontou para um linfoma já avançado. Havia um tratamento, mas era perceptível que a gatinha já estava cansada e que era hora de deixá-la ir. Meu pai a sepultou na manta amarela em que ela gostava de dormir, embaixo de uma árvore onde ela poderia apreciar e perseguir os pássaros.
Aveia veio pouco tempo depois do que aconteceu. Ela era arisca e tinha muito medo de mim, escondia-se embaixo do móvel da televisão da minha avó ou atrás da geladeira. Porém, não demorou muito para esse comportamento mudar: ela adora se esfregar e miar pedindo carinho e atenção, e ama tomar água na pia do banheiro. É bem tímida, subindo em cima do armário da cozinha sempre que recebo visitas e também não gosta muito de cães, apesar das incontáveis tentativas do Costelinha de conquistá-la.
Meu pai mudou seu sentimento em relação aos felinos após o falecimento de Mingau. Na manhã seguinte à chegada de Aveia, ele me ligou e com uma voz séria mandou que eu fosse vê-lo no portão de casa e, ao abrir, deparei-me com meu pai segurando um gato de cor branca e amarela. Ele entregou o gato a mim e me disse apenas para cuidar do bichinho; Naquela noite, meu pai insistiu para que o novo integrante da família dormisse com ele. Esse recebeu o nome de João, pois a cor de sua pelagem é tão comum quanto o nome João.
Eu ia fazer uma reflexão final, mas já chorei bastante redigindo esse texto, então, caro leitor, aprecie as imagens do Costelinha, da Aveia e do João.



Publicado por Anita Araújo
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