Por Sarah Furquim
Com o aumento do preço dos alimentos básicos, nos deparamos com situações cada vez mais complicadas. Para se adequar ao aumento, muitas vezes cedemos a compra de alguns alimentos que anteriormente consumimos. Nesse contexto, há uma elevação no índice global em relação ao percentual da população sujeita à fome e à insegurança alimentar, que abrange a alimentação de má-qualidade, a instabilidade no acesso a alimentos e a própria fome. No caso do Brasil, segundo os dados divulgados pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (PENSSAN), a insegurança alimentar grave afeta 9% da população, ou seja, 19 milhões de pessoas.
A alimentação, como um direito social básico, está expressa no art. 6º da Constituição Federal (CF). Sendo assim, o Estado é responsável pela alimentação do povo, o que, em tese, traz mais confiança na luta contra a fome, uma vez que as políticas públicas seriam frequentemente voltadas à essa causa. Ademais, para a Organização das Nações Unidas (ONU), a fome se define como uma sensação desconfortável ou dolorosa causada por energia insuficiente advinda da falta de uma alimentação adequada. Dessa forma, há a relação da privação de alimentos ligada ao ponto de vista nutricional.
De acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brasil é o segundo maior exportador de alimentos do mundo, com uma produção que abastece cerca de 800 milhões de pessoas todos os anos. No entanto, mesmo com a aparente abundância de alimentos, o país está de volta ao Mapa da Fome da ONU, apresentando um elevado índice de insegurança alimentar, que tem piorado nos últimos anos.
Nesse contexto, mesmo com a pandemia, algumas políticas econômicas e sociais que vimos nos últimos anos contribuíram diretamente para o agravamento do problema, e não ao seu atenuamento. A política cambial brasileira, que permitiu a desvalorização do real frente às moedas internacionais de forma deliberada como modo de favorecer as exportações e a balança comercial, serviu como um contragolpe que fez o preço dos alimentos e dos combustíveis aumentar muito, deflagrando o período atual de inflação e minando o poder de compra dos brasileiros. Entre 2018 e 2021 os alimentos ficaram, em média, 43% mais caros para o consumidor final.
As consequências dessa política também serão vistas no longo prazo, já que a fome tem impacto no sistema de segurança social, na saúde, na educação e no mercado de trabalho, uma vez que atinge diretamente a produtividade das pessoas. Dessa forma, é necessário priorizar o tema da alimentação e as políticas públicas de segurança alimentar, que podem auxiliar no combate à fome no país. Parafraseando Walter Belik, um dos principais pesquisadores sobre segurança alimentar no Brasil, “prevenir seria mais barato – a fome custa caro”.
Fontes:
“A fome e o desemprego no olhar de uma criança”. Publicado no O Dia, em 19 de abril de 2022.
“Combate à fome se faz com políticas públicas, não com doação de sobras”, Publicado no Actionaid, em 18 de junho de 2021.
“Em meio à exportação recorde de alimentos, seca e pandemia agravam fome no campo”. Publicado no BBC News, em 2 de junho de 2021.
“‘O real desvalorizado tornou a exportação mais vantajosa’, diz especialista sobre crescimento do agronegócio”. Publicado na Revista Esquinas, em 31 de maio de 2021.
“Volta do Brasil ao Mapa da Fome é retrocesso inédito no mundo, diz economista”. Publicado no Folha de São Paulo, em 23 de janeiro de 2022.
Publicado por Sarah Furquim
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