Causos de Uberlândia e a solidão paulistana

Por Anita Araújo

No dia 12/04/2022, completou-se seis meses que resido em São Paulo, a 685,5 km de casa, de acordo com o Google Maps. Não é a primeira vez que moro longe da família, mas é a primeira em que estou sozinha, o que me faz lembrar do meu ano em Uberlândia. 

Durante a minha vida, mudei-me de cidade algumas vezes. Sou mineira, natural de Patrocínio, onde morei dos 6 aos 13 anos. Antes disso, morava em uma fazenda próxima à Coromandel, cidade para qual retornei aos 13 e permaneci até quase completar 17 anos. Quando decidi que iria cursar Direito, minha família decidiu que eu deveria estudar em um colégio melhor, pois era importante que ingressasse em uma universidade federal de excelência (a parte de ser pública não deu certo, como se vê). 

Assim, em 2019, fui para Uberlândia e, na época, eu sequer sabia cozinhar arroz, então meu pai decidiu que a melhor opção era morar no pensionato da dona Carmélia (nome fictício para evitar transtornos judiciais). No total, éramos oito garotas, sendo que os quartos eram divididos entre duas pessoas. Marcela, Estela e Gabriela eram vestibulandas; Isabela, as Brunas e eu estávamos no colegial; e minha colega de quarto, Aline, era estudante de Publicidade e Propaganda. As únicas lembranças divertidas que tenho do pensionato são aquelas com essas meninas, pois a comida e a administradora do lugar eram terríveis. Discussões sobre o tipo ideal de cada uma, motivos pelos quais a Saga Crepúsculo é uma porcaria (mudei de ideia?), o que rolou na noite passada no Arquibancada, são algumas entre as diversas pautas semanais que debatíamos comendo o brigadeiro de colher da Bruna F. 

Permaneci no pensionato durante seis meses e depois comecei a dividir um apartamento com duas garotas de Coromandel: Larissa e Maria Clara. Larissa, por ser aquela com quem eu tinha mais afinidade, era a maior vítima da minha tagarelice. Comumente, eu interrompia seus estudos para: a) convencê-la a dividir uma pizza/sorvete/caixa de bombons comigo; b) compartilhar fofocas; c) testar nossos conhecimentos (em uma dessas ocasiões, tentamos lembrar a capital de cada estado brasileiro — o resultado foi catastrófico). Quando Maria Clara foi aprovada no vestibular de Medicina, Ana Beatriz, minha antiga colega de turma e, agora, estudante de Direito, preencheu sua vaga. Juntas pegamos carona e roupa emprestada com estranhos, queimamos o meu microondas e conseguimos um desconto incrível na farmácia (gostaria de dizer que ganhamos pelo nosso charme, mas tenho quase certeza que foi pela insistência). Por causa da pandemia, tivemos que entregar o apartamento e voltamos para Coromandel. 

Até agora, tenho odiado a experiência de morar sozinha em São Paulo, afinal ela comprovou que sou, de fato, um animal social. Sinto falta da movimentação de uma casa cheia, de estar tentando estudar com o barulho de alguém ouvindo música, conversando ou assistindo o Batman emo brilhar. Apesar disso, entendo que a vida adulta é solitária e acredito que a única solução para aliviar a insatisfação que isso causa é começar a apreciar a própria companhia. Como consigo fazer isso?

P.S.: Larissa, durante a quaresma, comeu miojo de carne e houve uma discussão acalorada se isso era pecado ou não. O que vocês acham?

Publicado por Anita Araújo


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