Por Isabela da Silva Aquino
A formação da sociedade primitiva teve como principal fonte de construção o núcleo familiar. Logo, entende-se que o Estado surgiu após as transgressões geradas na ordem doméstica, estabelecendo por conseguinte a necessidade de um contrato social entre as partes com o consentimento de ambas, para o estabelecimento de uma instituição organizadora de comportamentos que impõe deveres e garante direitos. O governo, portanto, seria uma simples evolução da família, produzindo indivíduos civilizados, contribuintes, eleitores e responsáveis pelos seus atos civis perante a sociedade. Já a educação familiar ganha importância no contexto atual apenas no sentido de ser uma espécie de propedêutica da vida em sociedade, fora da categoria familiar, afinal a tendência no novo sistema de mundo é a separação do sujeito da comunidade doméstica.
Em um cenário que considera as vontades coletivas primordiais aos interesses particulares, revela a importância das leis criadas, com o intuito protetivo a maioria da população, afetando diretamente a estrutura da sociedade em formação. O novo sistema industrial atribuído separa as classes em empregados e empregadores, com a manufatura em ascensão, diferenciando suas funções nos meios inseridos, porém herdando características hierárquicas do mundo velho, diferente da condição arcaica que mesmo respeitando um certo nível hierárquico, partilhavam das mesmas privações e confortos convencionados. Com a nova premissa a respeito do domínio capitalista, torna-se vantajoso aos poderosos explorar a classe oprimida, com a devida separação feita entre camadas sociais, evidenciando e ameaçando a relação de humanidade que se encontrava em declínio com os salários ínfimos e as péssimas condições de trabalho.
A velha educação se dava pelo princípio básico da obediência imposta e garantida por parte das pessoas. Logo, a falta de obediência geraria visões de aprendizado em busca da individualidade, pois a dominação excessiva era sinônimo de incompetência nos âmbitos sociais e individuais, indo contra a doutrina defendida pela nova forma de vida no mundo contemporâneo era a formação de indivíduos ágeis e preparados. Símbolos significativos de numerosos adolescentes arrancados dos seus meios provinciais e rurais de “viver por si “ libertando-se progressivamente dos velhos laços caseiros e alcançando um senso de responsabilidade que até então fora vedado.
A personalidade social do indivíduo permite as decisões imperativas geradas e praticadas durante os primeiros cinco anos de vida, sendo esse obrigado ,portanto, a se adequar ao novo meio das relações sociais.
No Brasil, o que se predomina, desde tempos remotos, é especialmente o tipo primitivo da família patriarcal, o desenvolvimento da urbanização, como fator impulsivo, que não resulta unicamente do crescimento das cidades, mas também do crescimento dos meios de comunicação, acarretando em um desequilíbrio social, cujos efeitos perduram vivos até os dias atuais.
É possível acompanhar ao longo de nossa história, a prevalência constante das vontades particulares. Em contrapartida desse pensamento, a expressão que caracteriza a contribuição brasileira para a civilização se dá pela cordialidade, ou seja, a ação gentil de demonstrar afeto e simpatia ao próximo, pela nossa imensa hospitalidade e generosidade, já inseridas no caráter dos brasileiros. Logo, afirma-se que seria engano supor que essas virtudes possam significar “boas maneiras” na civilização. O Japão, por exemplo, posto em comparação à natureza do Brasil, demonstra a polidez envolvida no sentido ordinário do convívio social, a partir muitas vezes da reverência religiosa. Todavia, a forma do povo brasieliro ao se deparar com a maneira ordinária de convívio social é completamente oposta aos japoneses, pois para nós segundo o fragmento, as formas cordiais não precisam ser legítimas para se manifestarem.
No capítulo “homem cordial” representado pela espiritualidade brasileira inserido em seus estereótipos, fica evidenciado a vida em sociedade que se desprende do pavor em viver consigo mesmo, inserindo de forma intensa o indivíduo ao meio social a agir de forma comum. A manifestação normal do respeito, em regra geral, reproduz o estabelecimento de intimidade. O próprio apego ao diminutivo, com a terminação das palavras em “inho” já corresponde ao nosso lado inclinado para o emocional, com o intuito de aproximar as pessoas até mesmo de uma possível amizade. Para as outras nações, essa maneira de nos comunicarmos e por conseguinte nos tratar, exprime uma ideia de desrespeito, justamente por usarmos esses atributos em âmbitos religiosos, estabelecendo uma certa intimidade com as sagradas escrituras e o próprio criador Deus, justamente pelos nossos cultos não serem obrigados e sem rigor intimista e familiar, nesse sentido, o ritualismo não se fazendo necessário caracteriza uma democracia completa , por revelar a livre participação e expressão, frequentando ambientes religiosos apenas por questão de hábito muitas das vezes.
Portanto, a grande crítica fundamentada no capítulo se dá pela maneira que se qualifica a palavra “cordial, pois a interpretação do fragmento indica que a intenção do autor era manifestar a educação inata do brasileiro, o que para muitos representa um posicionamento irônico por parte do autor, visto que os brasileiros em muitas situações não representam um símbolo referencial de disciplina. Logo, a palavra usada “cordial” é apresentada no sentido etimológico, ou seja, tratando-se da origem da palavra através da análise dos elementos que a constitui, cujo centro é o coração. Refletindo assim, as ações do povo brasileiro são direcionadas à emoções contidas, ao contrário dos outros países como o Japão que possuem condutas voltadas à razão.
Referência:
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia de Letras, 1995. 220 pg.
Publicado por Isabela da Silva Aquino
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