Por Enricco Gabriel

Este é o primeiro artigo que redijo em primeira pessoa, pois debruço-me, ainda que levemente, sobre assunto bastante aborrecedor e que requer aproximação e pessoalidade.
O advento das redes sociais ensejou incontáveis benesses para a humanidade. Destacam-se duas delas: o instantâneo intercâmbio de informações, independentemente de localização, e o exponencial crescimento da liberdade de expressão — esta que alguns, incansável e eufemicamente, pretendem “democratizar”.
A internet não está imune ao mal, porém, e, entre seus malefícios, um dos que mais me incomodam é o imediatismo. Explico: simples passada de olhos pelo Twitter, por exemplo, é suficiente para que se constate a estarrecedora quantidade de entendidos sobre a plenitude do que existe. Batizei esses seres humanos de “especialistas em tudo com estudo em nada”.
Aliás, a rede social citada no parágrafo anterior é o grande vetor desse comportamento pueril. Aqueles próximos de mim sabem de meu desprezo pelo Twitter, cujo limite de caracteres é, se não o pai, o padrasto dessa cultura imbecilizante mantida, principalmente, por um deprimente amálgama de recém-desfraldados e de adultoides.
Certa vez, li um tuíte, veja só, que magistralmente sumariza o que ocorre: “[…] as redes sociais parecem uma grande redação do Enem: as pessoas recebem um tema polêmico [com o qual] elas nunca tiveram contato e [em que] nunca pensaram antes, mas [sobre o qual têm] a obrigação de opinar […] com [trinta] linhas enquanto fingem que [têm] base argumentativa […]”.
Nesse submundo, vê-se toda sorte de experts: juristas, filósofos, cientistas políticos, médicos, biólogos, farmacêuticos, historiadores, sociólogos, escritores, estrategistas militares, professores, geógrafos, teólogos e, mais recentemente, virologistas — estes surgiram às toneladas, inclusive.
Todos esses especialistas de ocasião não têm estudos para lastrear suas firmes posições que, por suas vezes, são tomadas em um susto. Veja, não trato, aqui, de educação formal ou da falácia do “lugar de fala”. As pessoas têm o direito de opinar e de palpitar sobre tudo o que lhes convier, incluindo temáticas nas quais são leigas, mas devem entender, sem chorumelas, que abrirão os flancos para críticas.
O problema é que os prepotentes especialistas em tudo se arrogam a posição de debater com verdadeiros estudiosos, qualquer que seja o tópico escolhido. Quando facilmente desbancados, destino comum a todos eles, apelam ao argumentum ad hominem. Esse é o mesmo espécime que nivela mestres e discípulos, a ponto de reputar criminosa a repreensão daqueles a estes. Nas palavras de alguém que eu admiro, “que professor é esse que não pode dar bronca em seus alunos?”.
Pois é. Travo uma cruzada particular contra tipos assim. Entretanto, quando percebo que também caio nessa armadilha, me decepciono. Sinto-me burro e hipócrita, até que relembro a frase cirurgicamente precisa do romancista escocês James Matthew Barrie: “Não sou jovem o suficiente para saber tudo”.
Eu, por outro lado, talvez seja jovem demais.
Referências:
- “I’m Not Young Enough To Know Everything”. The Quote Investigator.
Imagem:
Publicado por Enricco Gabriel
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Falou escreveu tudo que muita gente pensa e não tem coragem de expressar.
Muito vazio num cheio ou muito cheio de vazio!!!
Parabéns!!
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Parabéns pelo artigo!!!
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