Por Mariana Seminati Pacheco, presidente da ALEMack
Me sento no sofá de casa, ainda faltam alguns minutos para a meia-noite. A champanhe gira dentro da taça com o movimento de minha mão. Recapitulo o ano de 2020 e me pergunto se vale a pena a retrospectiva de todo ano que é emitida pelos canais de televisão.
Pandemia, as águas de março anunciavam no Brasil a doença que se alastrou pelo mundo. Descobrimos enfim como as pandemias do passado, como a Peste Negra, puderam ser cruéis, e como nossos antepassados devem ter clamado por uma cura divina, tal como nós imploramos por uma vacina e tratamentos eficientes. Mortes e infectados, aos milhões, e os governantes preocupados para quem apontar o dedo, e como saquear os defuntos. Ladrões de tumbas.
Desemprego. As portas fecharam de comércios, shoppings, restaurantes. Com medo, o povo prevenido temeu e se trancou por dias infindáveis em suas casas. Vivemos então o suficiente para ver distopias se cumprindo? Não apenas as apocalípticas, mas aquelas em que máquinas tomam o lugar dos homens, em que nos tornamos menos necessários a cada momento que passa, e mais ociosos conforme as telas invadem nossa rotina? Philip K. Dick avisou, e um admirável mundo novo previu. Assustador e temeroso.
Revelações. Não falo de previsões de charlatões que agora vêm dizer que os astros já avisavam dos desastres, ou a aproximação dos aliens junto com o monólito de 2001. Me refiro ao egoísmo, egocentrismo, ambição, ganância, interesses, mediocridade, irracionalidade, racismo e tantos outros adjetivos que se tornaram mais latentes no mundo, como se máscaras caíssem. E então os países desenvolvidos também cometeram burradas, assim como os considerados pobres e emergentes. O simples uso de uma máscara colocou em teste a capacidade intelectual da raça humana, e nos provamos animais sujeitos à seleção natural, onde o mais adaptável e se preserva em sua toca, sobrevive.
Guerras. Aos montes, mas discretas. Aliás, a Guerra Fria acabou? Ou ressuscitou? Mudou de foco. Não são mísseis, mas, sim, o 5G, a Lua novamente, o primeiro, o herói, o próximo prêmio Nobel. Enquanto isso, atentados terroristas acontecem em nome da Fé e tiram a esperança que temos. Também a política trava disputas sem sentido de conceitos já incompreendidos pelas sociedades. Direita, Esquerda, Centro, no final, nenhum deles presta, são só intrigas infindáveis. E o mundo está esquentando… As revoltas e protestos criam uma nova era de contestações.
Natureza. Revanche, Vendetta. O preço veio em queimadas, vespas assassinas, doenças incontroláveis, terremotos, furacões, gafanhotos, nuvem de poeira, vulcões em atividade, naja fora de seu habitat. Mutações, reviravolta, vamos ser massacrados? Nos vemos enfim ínfimos, insignificantes. Somos miseráveis se comparados à força que move este planeta, e ele continuará a girar, conosco, e os satélites cairão dos céus quando o homem aqui não mais estiver por não ser capaz de obedecer sua origem: do pó viemos, ao pó voltaremos, daqui não levamos nada. Seremos adubo para as árvores que cortamos.
Os fogos vão começar em alguns minutos. Esperava ver as praias vazias e as reuniões de família um pouco mais reclusas. Entretanto, o imediatismo se tornou mais relevante. Como desejar boas festas se não consigo ver aprendizado em um ano como este? Os erros se repetem por séculos! Boas? Festas? Não comemoremos logo no primeiro dia de 2021.
Nos felicitemos se conseguimos nos superar, se fomos aqueles que se adaptaram em casa, aprimorando nossos talentos, e conseguindo um emprego, ou se nosso cargo não foi substituído por uma máquina. Se nossos familiares e pessoas queridas, mesmo que distantes, estão bem. Se estendemos a mão para um amigo ou mesmo desconhecido necessitado, seja em qualquer área, e ele resistiu neste momento. Se ainda pensamos em como afetamos o ambiente em que vivemos e mudamos algo em nossa rotina. Se notamos que o “nós” foi mais importante que “eu” em 2020. E talvez por isso, por pequenos detalhes que fizeram alguma diferença, possamos dizer que algo valeu a pena.
Uma lição dolorosa vai ser levada para 2021, e ainda não temos a cura, não só para o vírus, mas para muitos males que se expuseram violentamente durante este isolamento mundial. Continuemos a tentar. Um novo ano vai começar, em segundos, e seguiremos em frente, de um jeito ou de outro, queiramos ou não… em 3,2,1…
Publicado por Rafael Almeida
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