Caminhando pelas singelas ruas do meu bairro parei para atentar-me ao horário, pois já é da minha praxe quase que involuntariamente me atrasar. O ponteiro soava às oito horas, eu estava adiantado. E em frente à casa de número oitenta dei-me a oportunidade de acompanhar as notícias já que possuía o celular em mãos. O que me surpreendera exacerbadamente em uma dessas manchetes foi o fato de noticiarem com agonizante naturalidade a morte de uma criança de oito anos de idade, vitima das incontáveis balas perdidas; chamava-se Ághata, assim mesmo com o verbo no pretérito imperfeito, uma vez que lhe arrancaram o presente e a chance de um futuro. A impressão que tive fora a que a barbárie contra a população negra se tornara apenas uma monotonia anunciada.
Com a mente em total movimentação fez-se assim prostrar meu corpo, atrasei-me. Mas ganhei tempo a sós com meus enleios pensando nesta situação. Cheguei à elucidação que viver no Rio sendo pobre e preto é oito ou oitenta, não há meio-termo. Dão-se o nada e tiram-se o tudo; fazem nada e são culpados, digo, castigados por tudo; o Estado investe no nada e esquece o todo; a polícia não protege ninguém e matam todos. Ousar viver em tamanha constância da volatilidade é um ato revolucionário em meio a uma camuflada ditadura.
Cheguei ao meu destino, mesmo que atrasado, mas com êxito às oito horas e oito minutos; ocorrência que nunca suceder-se-á com a pequena Ághata. Tomaram-lhe à força o único direito que a ela fora concedido apesar das contrapartidas: o da vida. Extinguiram mais um brilho negro de uma alma favelada, apagaram a fagulha de um futuro. Horizonte que pincelava um sol de uma médica, professora ou uma vereadora? Nunca saberei. Não há meio-termo, não há dúvidas. Tiraram uma vida toda e deixaram o nada da saudade com a família. Viver na cidade maravilhosa é oito ou oitenta: atiram em uma criança de oito anos; fuzilam um pai de família com oitenta tiros.
Coletivo 4 da Manhã
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