“Me dê um beijo, meu amor/Eles estão nos esperando/Os automóveis ardem em chamas/Derrubar as prateleiras/As estantes, as estátuas/As vidraças, louças, livros, sim…/E eu digo sim/E eu digo não ao não/E eu digo:/É! — proibido proibir’’ (É PROIBIDO PROIBIR, Caetano Veloso, 1988).

Normalmente quando se fala em censura, nos é remetido momentos conturbados da política brasileira. O Estado Novo (1937-1946) e a Ditadura Militar (1964-1985) foram palco para cenários de extrema restrição de direitos, entre eles, a censura. Nesses dois momentos da história do Brasil, o Estado usou como instrumento de controle uma forte censura, seja no âmbito cultural (literatura, música, cinema, dentre outros) quanto no âmbito político.
Em contrapartida, sempre que houve censura artística existiu também movimentos que utilizavam a arte como uma forma ‘’mascarada’’ de protesto. Grandes artistas como Caetano Veloso, Elis Regina, Gilberto Gil, fizeram seu nome no contexto da ditadura militar, expressando por meio da arte uma crítica à política vigente.
Governos autoritários sempre utilizaram a censura como uma maneira de controlar seu povo, Hitler em uma queima histórica de livros considerados ‘’perigosos’’, Stalin reprimindo qualquer tipo de manifestação cultural e política contraria a do Estado, assim como todos os ditadores historicamente conhecidos.

Podemos ver atualmente, com os acontecimentos que ocorreram na Bienal do Livro no Rio de Janeiro, que há uma forma encoberta de censura. O fato que teve repercussão internacional decorreu da proibição, de uma HQ que possuía como uma ilustração um beijo entre dois personagens do sexo masculino, por parte do prefeito do Rio, Marcelo Crivella.
Esse ato chamou atenção, da mídia, da sociedade, assim como do poder judiciário, que pode ser demostrado pela fala do Ministro Celso de Mello: ‘’Sob o signo do retrocesso, cuja inspiração resulta das trevas que dominam o poder do Estado, um novo e sombrio tempo se anuncia, da intolerância, da repressão ao pensamento, da interdição ostensiva ao pluralismo de ideias e do repúdio ao princípio democrático”.
Visto isso, o Ministro Dias Toffoli proibiu a apreensão dos livros nos estandes da Bienal, alegando que vivemos em país democrático onde se é permitido o livre trânsito de ideias. Contudo não foi possível impedir que houvesse uma vistoria por parte da equipe do prefeito do Rio de Janeiro na Bienal, transformando essa busca por livros ‘’impróprios’’ em uma verdadeira caçada a conteúdos majoritariamente de temática LGBTQ+. Fica claro, que esses acontecimentos representam um ato de censura, uma vez que esse livro em específico não há conotação sexual, como tanto afirma Crivella e sua assessoria.
Em suma, os acontecimentos da Bienal de 2019 trouxeram uma importante discussão: a censura, e como ela pode ser disfarçada de argumentos conservadores e respaldo político. Portanto, é evidente que a censura é uma maneira de controlar uma nação, não permitindo a formação de um pensamento crítico e de uma fundamentação de ideias. Por fim, a censura é um ato de extrema violência que busca silenciar principalmente aqueles que são invisíveis aos olhos de grande parte da sociedade.
‘’Me dê um beijo, meu amor/Eles estão nos esperando/Os automóveis ardem em chamas/Derrubar as prateleiras/As estantes, as estátuas/As vidraças, louças, livros, sim…/E eu digo sim/E eu digo não ao não/E eu digo:/É! — proibido proibir’’ (É PROIBIDO PROIBIR, Caetano Veloso, 1988).
Texto escrito por: Mirella Golfeto.
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Fontes
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/08/politica/1567961873_908783.ht
ml
https://f5.folha.uol.com.br/colunistas/tonygoes/2019/09/disfarcada-com-
outros-nomes-a-censuraesta-querendo-voltar.shtml
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