O cenário de ficção científica da realidade brasileira

Por Larissa Sousa

Uma pandemia. Mais de meio milhão de mortes. Negacionismo à fatos científicos. Direitos Humanos sendo violados constantemente. Um governo que é conivente com tudo isso. Nós, brasileiros, conseguimos identificar de pronto que tal descrição trata-se do cenário vivido pelo Brasil atualmente, mas, há poucos anos, se eu como leitora me deparasse com tal descrição em algum lugar, teria certeza de se tratar de uma obra de ficção científica, daquelas bem sangrentas, à la Isaac Asimov, com requintes de Stephen King. 

Todos os dias, quando me deparo com a informação, seja no noticiário, nos jornais, ou nas próprias redes sociais] de que mais de 600 mil brasileiros foram vitimados pela COVID-19, tendo a noção de que provavelmente este número seja muito maior do que o informado pelo consórcio de imprensa, me sinto nauseada. Em que momento perdemos a humanidade a ponto de conseguirmos seguir nossas vidas sabendo que mais de 600 mil pessoas, mais de 600 mil pais, mães, amigos, irmãos, irmãs, avós, avôs, morreram em decorrência, não única e exclusivamente em decorrência do vírus, mas principalmente por conta da conduta de autoridades públicas no manejo da contenção pandêmica. Essa situação  remonta a um cenário descrito por George Orwell, uma sociedade que fica passiva diante de atitudes como as que foram adotadas pelo governo brasileiro. Não vou aqui detalhá-las, porque, infelizmente, são inúmeras. Mas em que ponto nós passamos a considerar aceitável que o negacionismo à ciência se tornasse uma medida de Estado, em que momento perdemos a fé de que a Ciência e Medicina poderiam nos salvar desse vírus, da mesma forma como salvaram a humanidade de diversas outras epidemias? 

O autor Ray Bradbury, de “Farenheit 451”, estaria horrorizado com a semelhança entre o seu trabalho e a sociedade brasileira, posto que, a meu ver, a maneira como boa parte da população optou por ignorar a realidade, considerando aceitável não usar máscaras e desrespeitar as medidas de distanciamento social, se trata de uma alienação consciente. Digo consciente porque na sociedade da informação, em um cenário semelhante ao descrito na obra “Eu, robô”, do autor Isaac Asimov, está óbvio para todos o que deveria ter sido feito para evitar que tantas pessoas fossem massacradas pelo vírus, e optar por não ter tomado tais medidas, é ser indiretamente responsável por todas estas mortes.

Não estou aqui falando de todos os brasileiros que precisaram se expor ao vírus para garantir a sua sobrevivência e seu sustento, mas sim daqueles que poderiam, sim, ter feito sua parte para conter a pandemia, mas optaram por não o fazer. A violência desta omissão faz com que as atrocidades descritas na obra “Laranja Mecânica” sejam brincadeira de criança. 

Desde o final do ano passado, com a chegada das vacinas, uma nova esperança surgiu, como quando os Jedi derrotaram o Império, na saga Star Wars, mas, infelizmente, da mesma forma como o “dark side of the force” sempre encontra seguidores, o negacionismo também prevaleceu, fazendo com que milhares de pessoas se recusassem a tomar a necessária vacina.  

É preciso resistir. É preciso continuar dizendo o óbvio: enquanto o combate à pandemia não for considerado uma obrigação de todos, será necessário continuar lutando contra essa ficção científica que é tão horrenda a ponto de que nenhuma obra de ficção científica ousaria descrever.

Publicado por Larissa Sousa


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