Por Leonardo Cipriano
“O que você faz, tio?”. Foi com essa pergunta que meu sobrinho de 12 anos me tirou de órbita. Eu, que hoje estudo Direito, trabalho no departamento jurídico de uma empresa, faço estágio voluntário em um escritório e sou redator daqui do JP3, bambeei ao responder. Na verdade, eu travei, mesmo.
Precisava explicar a ele que seu tio produz e analisa o risco das transações imobiliárias, mais conhecidas como due diligences, que são determinantes para o sim ou não na aquisição destes pela empresa. Que trabalha também em outro lugar, de forma gratuita, a fim de aprender e ajudar outras pessoas e que escreve para o jornal da faculdade.
Depois de dar a resposta um pouco travada, fiquei a refletir que, talvez, eu fizesse um pouco mais que isso. Poderia ter respondido a ele, olha, o tio estuda Direito, analisa e direciona a compra ou não de imóveis, na semana passada fez seu primeiro Habeas Corpus no escritório e escreve um texto por semana para o jornal da faculdade. Agora, talvez, tivesse contemplado um pouco mais a produção que me acompanha diariamente.
Mesmo assim, fiquei incomodado com a ideia de eu ser somente o que produzo. Até porque, além de tudo isso, eu preciso lidar com as minhas inseguranças, meus erros, minha chatice — essa, todos dizem que é latente — e, no final do dia, sou só eu comigo mesmo. Cara a cara.
A pergunta “Quem é você?” nos coloca, de forma condicionada, como resultado da nossa produção. Talvez você responda que é advogada, médica, arquiteta, cineasta ou estagiária mas, no final do dia, nada disso importa. Afinal, quem é você por trás dessa capa?
Bom, eu sou um libriano que adora ler e ter os livros organizados na estante — mas, na maior parte do tempo, espalhados pela casa. Como um bom libriano, sofre para escolher a leitura da vez, então escolhe três e as intercala. Adora escrever, mas na maioria das vezes tem bloqueios criativos, o que faz com que mande o texto para a revisão no dia anterior ao da publicação — adoro vocês, equipe. Sou aquele que todo início de semestre diz que vai se empenhar no nível máximo, mas na segunda semana está só existindo. Sou dançarino de música ruim, canto fora do tom e adoro encher o saco dos meus amigos, família e sobretudo da minha namorada. Ah, e antes que eu me esqueça, sou do time pró-vacina e anti-bolsonaro.
De modo que no final do dia, acredito que talvez eu seja mais do que um carinha quadrado que produz e analisa o risco das transações imobiliárias. Eu e você, todos nós, apesar de frequentemente nos faltar a memória, somos nós para além do que produzimos.
Então, querido sobrinho, o seu tio aqui, na próxima vez que perguntarem a ele, irá responder de forma a descrever melhor quem ele é e o que faz. Prometo entregar uma resposta mais divertida e sincera.
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KaitI Hsu
Publicado por Leonardo Cipriano
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