Por Julia Monteiro Nalles
No dia 27 de outubro, o Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) notificou a Apple sobre uma recente decisão da empresa norte americana relacionada com a venda dos produtos.
A notificação diz respeito ao fato de a empresa não mais incluir adaptador de tomada nas vendas de celulares, de modo que os consumidores tenham que adquirir o item separadamente. Segundo a Apple, a justificativa para tal medida seria atender aos seus objetivos ambientais.
Apesar do cabo poder ser conectado em outros dispositivos com o fim do carregamento de bateria, não sendo totalmente necessário o adaptador de tomada, isso também passou a representar um problema. Isso porque a mudança não foi simplesmente a remoção do adaptador, mas também fazer com que todo celular comprado seja acompanhado de um cabo USB-C, que só é compatível com os modelos mais recentes. Assim, os modelos antigos são vendidos separados de qualquer ferramenta útil para o seu carregamento. O Procon solicitou explicações sobre a retirada dos adaptadores, visto que caso o consumidor não tenha meios de carregar o seu celular, a funcionalidade do aparelho fica – por óbvio – comprometida.
Essa não é a primeira vez que a Apple gera certo tumulto sobre uma decisão eticamente questionável. Em 2016, com o lançamento do IPhone 7, foi oficialmente retirada a tradicional entrada para fones, presente não só em todos os aparelhos da marca até então, mas também muito comum em outros dispositivos. Apesar de o novo celular vir acompanhado do novo modelo de fone, muitos consumidores precisaram de um adaptador (atualmente vendido por R$99,00 na loja oficial), afinal fones quebram ou se perdem e os que todos tinham em suas casas eram do modelo antigo. Com isso, a empresa não apenas lucrou com a venda de adaptadores (causar a doença para vender o remédio), mas também tornou mais difícil a utilização de fones que não fossem da marca, visto que a entrada antiga era mais comum.
A mudança de 2016 não teria causado tanta controvérsia se ocorrida para melhorar a experiência dos usuários. Entretanto, não pareceu haver uma justificativa coerente para a alteração; ao contrário, o novo modelo de celular impossibilitou usar um fone com fio e carregar o aparelho concomitantemente. Isso, é claro, passou a incomodar os usuários de modo que muitos acabaram investindo na compra dos famosos AirPods, os fones de ouvido sem fio da Apple (o menor preço, no site oficial, hoje, é R$ 1.899,00).
Tais formas de, sutilmente, fazer modificações para pressionar os consumidores a adquirirem um novo produto da marca, que não é conhecida por ter preços acessíveis, gera uma atmosfera, para dizer o mínimo, desconfortável. Esse tipo de prática contribui para que os consumidores não confiem na empresa e tenham uma imagem negativa dela, mesmo que continuem consumindo.
Apesar de polêmico, esse tipo de comportamento não é ilegal. Entretanto, a recente notificação do Procon pode ser um indicador de que, dessa vez, a empresa tenha ido longe demais ao tornar o funcionamento do produto algo que não é garantido com a compra do próprio produto.
Fontes
Apple é notificada pelo Procon-SP sobre iPhones sem carregador
Publicado por Julia Monteiro Nalles
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Ninguém é obrigado a comprar IPhone. Desta forma, quem faz questão de ter carregador incluso não deveria comprar IPhone (ou Galaxy S21). Faz sentido uma pessoa que já possuía IPhone e permanece com seu carregador intacto comprar um carregador novo (não existe almoço ou carregador grátis)? Faz sentido comprar carregador novo quando há outras pessoas em casa que possuem IPhone e podem compartilhar o carregador?
Além disso, salvo engano, a Apple continua fornecendo cabo USB, suficiente para carregar o aparelho em entrada USB. Não ignoremos também que uma pessoa que viaja pelo mundo com frequência, se não usar USB, precisará comprar adaptadores de tomada. O adaptador brasileiro não é suficiente. Mesmo no Brasil, há problema com a tomada de três pinos. Em um extremo, portanto, poderiam exigir que incluísse diversos adaptadores, o que elevaria radicalmente o preço.
Um professor na própria Faculdade de Direito do Mackenzie que possuía IPhone comentou uma vez que ele usava um carregador de outra marca conhecida e que era melhor e mais barato que o da Apple. Após a polêmica, a própria Apple admitiu que há carregadores de marcas concorrentes que podem ser usados. Desta forma, obrigar a fornecer carregador significa obrigar a realizar monopólio e venda casada.
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