Por Leonardo Mariz
O Professor Silvio Almeida deu início a uma nova empreitada: inaugurou seu canal no Youtube. Nele, o Professor traz um quadro chamado “Entrelinhas”, no qual o primeiro convidado foi o Mano Brown. Esse texto traz um comentário acerca do que foi a conversa entre os dois gênios: um que sempre foi meu conselheiro, e o outro que é a personificação de um sonho.
A conversa começou com Silvio Almeida afirmando que o Mano Brown é o seu professor, pois o grupo Racionais MC’s mudou as estratégias de sobrevivência dos jovens pretos. É fácil lembrar de vários conselhos dos Racionais; por exemplo na música “Negro Drama”, com a frase “falo pro mano pra que não morra, e também não mate”; ou na música “A Vida é Desafio”, na qual o grupo diz que “é necessário sempre acreditar que o sonho é possível, que o céu é o limite e você, truta, é imbatível”. São frases que têm o efeito absurdo de dizer para alguém que se atenta somente ao atendimento das necessidades básicas e não tem exemplos próximos de pessoas que alcançaram o que a classe média tem de “mão beijada”, que o sonho pode se tornar realidade.
Nesse sentido, acerca da fala do Professor Silvio, Mano Brown comentou que a chave para ligar o ser humano é a existência de “algum motivo para”. Sendo mais escuro na ideia, isso significa que se o indivíduo não enxerga um motivo que o faça caminhar, ou seja, um sonho, ele permanece parado, de modo a não perseguir seus objetivos. Por isso, o intuito dos Racionais sempre foi falar para os pretos que eles são capazes e que o sonho pode se tornar real: é possível ser advogado, juiz, promotor, professor.
Sobre isso, é interessante notar a influência do grupo sobre as novas gerações das artes periféricas, visto que um paralelo pode ser feito entre a fala do Brown e a música “Chave de Ouro” do MC Neguinho do Kaxeta, na qual ele diz: “vou ser a chave que abriu a sua mente”. Além disso, outra arte que atesta a afirmação de que o movimento de enfatizar a questão da autoestima foi levado adiante pelas novas gerações futuras é a arte de um dos discípulos dos Racionais MC’s, o Emicida, que na música “AmarElo” traz ao final do som o seguinte verso:
“Aí, maloqueiro, aí, maloqueira
Levanta essa cabeça
Enxuga essas lágrimas, certo? (Você memo)
Respira fundo e volta pro ringue (vai)
‘Cê vai sair dessa prisão
‘Cê vai atrás desse diploma
Com a fúria da beleza do Sol, entendeu?
Faz isso por nóis, faz essa por nóis (vai)
Te vejo no pódio”.
Nesse sentido, ao falar sobre a influência do rap, o Professor Silvio traz que o ritmo inventou a juventude do jovem preto, pois deu um sonho àqueles que na infância eram preparados para a exploração do mercado de trabalho. Sobre isso, sempre cirúrgico, Mano afirmou que havia um obstáculo, o primeiro muro, aquele que te impede de acreditar na sua capacidade. De acordo com Brown esse é o mais difícil de superar, pois é transposto em frente ao espelho, situação em que o indivíduo produz o autoquestionamento, ou seja, o momento da máxima socrática do “conhece-te a ti mesmo” em que o indivíduo passa a acreditar em sua capacidade.
Posteriormente o diálogo entrou no assunto do futebol, pois Silvio é filho do Barbosinha, ex-goleiro do Corinthians, fato que gerou piadas porque o arqueiro, segundo Brown, sofreu “nos pés de Pelé”. Sobre isso, o Professor afirmou que o maior jogador de todos os tempos foi fundamental para ele, pois o único orgulho que ele tinha do Brasil era o fato de que o melhor jogador do mundo é um cara preto. Sempre questionador, Brown trouxe a indagação acerca da cobrança excessiva sobre o atacante, haja vista que muitos homens brancos que cometeram chacinas são idolatrados. Nesse momento, o artista interpelou: “e se o Pelé fosse branco?” Silvio acrescentou: “seria um deus.”
Em outro momento, ao discutirem os discos dos Racionais MC’s, surgiu a questão do momento político e a influência dele sobre a arte, que culminou no assunto da polarização dos últimos anos e na regressão do país. Sobre isso, o Professor Silvio trouxe três pontos que o Brasil não consegue resolver estruturalmente e que voltaram com muita força com a regressão: a cultura não democrática, a existência da pobreza e o racismo. Para finalizar o assunto, houve conversa sobre arte e literatura, momento em que Brown indicou a leitura de Sérgio Vaz enquanto alguém que captou as questões sociais do momento.
Por fim, Brown finalizou com uma exposição acerca do que acredita sobre o futuro: “eu tenho esperança na gente, na nossa fome, no nosso histórico de vida, na nossa necessidade de subir, beber a água, respirar o ar, sobreviver. Eu acredito na gente, não em quem está com a barriga cheia, empapuçado da vida. Eu acredito nas pessoas que querem viver, que estão com sede de viver, que ainda não usufruíram, não sentiram o gosto da felicidade”. O diálogo se encerrou nesse ponto, quando o Professor Silvio Almeida reafirmou a importância dos Racionais MC’s para a sua trajetória, e Mano Brown apontou que o intelectual faz parte da realização do projeto do grupo, haja vista que segundo o Emicida, “se o triunfo não for coletivo, é do sistema”.
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