Por Gislene de Arantes da Costa, membro da ALEMack
É possível o entendimento que a literatura brasileira surgiu paralelamente ao “descobrimento” do Brasil. Apesar da origem não ser genuinamente brasileira, visto que os primeiros escritos não são de autoria dos nativos que aqui estavam, por não possuírem representação escrita, marca a fase inicial da produção literária em terras brasileiras, período ao qual chamamos de Quinhentismo, marcada pela literatura de informação, introduzida pelos escrivães dos navios, e a literatura de catequese, introduzida pelos jesuítas.
Atenta-se aqui à literatura de informação, com o “Relato do Piloto Anônimo”, escrito por integrante(s) da armada de Pedro Álvares Cabral, e a Carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão oficial da armada, a serviço do rei português D. Manuel I, testemunhos diretos da chegada dos portugueses em terras brasileiras.
Enquanto a carta é bastante descritiva, revelando detalhes sobre a nova terra descoberta, os aspectos físicos e comportamentais dos habitantes e as possibilidades a serem exploradas, o relato é objetivo, narrando resumidamente os fatos presenciados. Na carta há a presença da opinião do autor diante das descobertas (em algum momento surge a expressão “me parece”), enquanto no relato se procura apenas a descrição por alto do que se observa, não expondo, pelo menos não explicitamente, a opinião do escritor.
Uma característica importante da carta de Caminha, é o zelo missionário. Isso porque, como se sabe, as expedições marítimas tinham também como objetivo a propagação da fé cristã. Este zelo é evidenciado no trecho em que os índios imitam os portugueses na missa celebrada pelo frei Henrique, concluindo Caminha: “[…], não deixe logo de vir o clérigo para os batizar, porque já então terão mais conhecimento e nossa fé, […]”.
É possível também identificar o teor mercantilista presente na carta, pois descreve o sistema de trocas entre nativos e homens brancos. Logicamente, deve-se negociar de forma crítica essa passagem, pois esse sistema foi extremamente benéfico para os portugueses já que trocavam quinquilharias pela exploração da mão-de-obra e riquezas naturais nativas.
Significativo observar a descrição dos povos desconhecidos até então, ressaltando a nudez dos índios e os acessórios inseridos por estes em seus corpos, que podemos comparar à descrição dos relatos de Vasco da Gama referente aos mouros, que destacou suas roupas de algodão, as toucas e a nudez da cintura para cima, tendo como ponto convergente aos dois narradores a descrição da cor da pele dos dois povos, o qual a cor é justificada por meio da mitologia.
Observa-se ainda a comunicação dos nativos com os descobridores, diferente dos mouros, que adentravam as embarcações portuguesas e tentavam o diálogo mesmo em língua arábica, os nativos brasileiros limitavam-se aos gestos indicativos, que viviam primitivamente, diferentemente dos africanos, que possuíam embarcações bem planejadas e armas de metal.
De certo que a visão desses relatos mostra a visão europeia centrada no homem branco como principal e superior. No entanto, a leitura desses primeiros escritos é de suma importância do ponto de vista literário.
Publicado por Rafael Almeida
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