Lula e o Presidencialismo de Coalizão

     Por: Naiara Oliveira

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil nos mandatos de 2003 a 2010 e reeleito  para ocupar a posição de 2023 a 2026, além de ser o primeiro presidente que advém das camadas mais pobres da sociedade, algo inédito na história do país, é conhecido por montar estratégias políticas com o presidencialismo de coalizão ao estabelecer a conciliação da esquerda e o centrão, legado este que tentou deixar de herança a Dilma Rousseff, mas que a ex-presidente falhou na manutenção das suas alianças ao longo do seu segundo mandato na presidência, que resultou em seu impeachment.

Em 2003, após perder pela terceira vez a eleição à presidência, Lula, na tentativa de se redimir com a burguesia em razão das suas ideias expostas nas campanhas anteriores que deram ênfase no eleitorado da classe trabalhadora, defesa da revolução, com  cunho de ideias socialistas, etc.,  junto ao Partido dos Trabalhadores (PT), coloca em prática o plano de conciliação que tem elaborado nas décadas de 80 a 90 e participa da disputa às eleições na chapa com José Alencar Gomes da Silva como seu vice, candidato filiado ao Partido Liberal. Segundo especialistas, historiadores e representantes do PT à época, em depoimentos dado ao Podcast “Presidente da Semana”, organizado pela Folha de São Paulo em episódio dedicado ao presidente Lula, há a confirmação de que essa estratégia foi pautada na escolha de um vice-presidente empresário, como forma de atrair o empresariado e apresentar uma nova postura ensejada pela aceitação às ideias capitalistas, “que era uma novidade no campo do Partido dos Trabalhadores”, segundo as palavras do jornalista André Singer. 

 Como vemos, o presidencialismo de coalizão foi crucial para a aceitação do PT entre a elite política. Lula, com ajuda de Dirceu e Palocci, atuou incisivamente nas alianças políticas com o centrão para garantir o apoio da maioria no Congresso Nacional. Conforme as ideias expostas pelo artigo “Bases Institucionais Do Presidencialismo De Coalizão”, de Fernando Limongi e Argelina Figueiredo, trata-se de um planejamento dominante que se sucedeu com a chapa Dilma Rousseff e Michel Temer, em que a ex-presidente, embora estivesse acompanhada de uma figura importante do centrão, ignorou a importância de cultivar essa aliança ao longo de seu mandato e foi engolida pelo Congresso no processo de impeachment que sofreu em 2016.

Imagem/Reprodução: FOLHA – Jorge Araújo

Lula demonstra a importância da manutenção de acordos pontuais com seus opositores em cima de cada projeto proposto em seu governo, e nas eleições de 2022 não foi diferente. Além de conquistar o apoio de seus adversários do primeiro turno, como Simone Tebet e Ciro Gomes, o petista já havia escolhido estrategicamente como seu vice-presidente o médico e político Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, que nas eleições de 2018 concorreu como candidato à presidência com grande apoio do centrão, que atualmente ainda mantém o domínio político na Câmara, levemente ameaçado pela “Onda Bolsonarista”, articulada por Bolsonaro em convencimento ao seu eleitorado para elegerem seus candidatos aliados. Esse, talvez, seja o ponto onde Lula e o PT têm pecado nas últimas eleições, apesar de possuir um eleitorado forte e fiel, principalmente na região Nordeste do Brasil, e usufruir de boas articulações para trabalhar com a política de coalizão na conciliação com o centrão, Bolsonaro verbalizava desde 2015 aos seus eleitores leigos sobre a importância de eleger seus aliados para garantir o apoio da maioria no Congresso Nacional, na tentativa de tornar seus ideais dominantes na Câmara, prática incomum por Lula ao seu eleitorado.

Caso tenha se interessado em se aprofundar sobre esse estudo, recomendo  a leitura do artigo disponibilizado abaixo sobre a política de coalizão, o qual  demonstra todas as hipóteses que se faz necessária essa conciliação entre o presidente e os parlamentares. Com destaque para o princípio partidário adotado para a distribuição de direitos parlamentares, conforme a proporcionalidade partidária,  reforçando as ideias dos antagonistas Lula e Bolsonaro e utilizando de estratégias diferentes para atingir o mesmo objetivo: dispor do apoio da maioria do legislativo, em destaque ao petista, um dos pioneiros a utilizar dessa estratégia, que carece de adequação para os tempos atuais já adaptada com uso das redes sociais por Bolsonaro, até então único representante da extrema-direita que foi capaz de ameaçar a governança do PT.

Revisado por: Daniel Scarabeli

REFERÊNCIAS

FIGUEIREDO, Argelina.; LIMONGI, Fernando. Bases Institucionais do Presidencialismo de Coalizão (1998). Disponível em: https://www.scielo.br/j/ln/a/7P5HPND88kMJCYSmX3hgrZr/?lang=pt Acesso em: 10/04/2023.

FOLHA DE SÃO PAULO, 01/10/2018. Presidente da Semana. Disponível em: https://open.spotify.com/episode/4ypueGmXg5s8XZEvx4HpfJ. Acesso em: 10/04/2023.

Publicado por: Naiara Oliveira

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