Escrito por Maria Marte da Silva
A época de eleições costuma trazer um clima morno consigo, e, tanto quanto o Carnaval traz a chuva e a impaciência, vem esta época com dias claros e limpos. Recordo como o verão prestigiava as ruas, tocando-as com a língua amarela e quente, esquentando os cabelos e carecas que com o Título na mão, apresentavam-se a votar.
A fila costumava ser mínima, prostada nos corredores claros e conhecidos da escola. As crianças logo cumprimentavam os seguranças e pessoas conhecidas no recinto onde estudavam – e todos sabem que a escola é como uma segunda casa. Ao acompanhar os familiares, ficavam atentas à tela da urna, sendo, por vezes, permitidas a clicar nas teclas instruídas. A tela mostrava nomes e fotos de homens bem-humorados e elegantes, exalando tanta confiança quanto os próprios pais – nada menos que celebridades a quem orgulhosamente podia-se alegar fidelidade.
A família se reunia, ainda que fosse para votar em escolas diferentes, como em um almoço conjunto, ou mesmo um passeio agradável. Depois da votação – que costumava ser rápida, sem amontoados – os adultos iam atrás de Chopp, até então proibido nas eleições, e às crianças, eram oferecidos refrigerante e sorvete. Às vezes, concediam algum brinquedo para os pequenos passarem o tempo, e se fosse ano de copa, divertiam-se colando as figurinhas nos álbuns (distribuídos gratuitamente nos colégios).
As discussões não eram tão agressivas. As pessoas acreditavam e tinham fé, mas não matavam ou morriam, tampouco cortavam laços. Afinal, ao fim daquele mesmo ano, ou do ano seguinte, estariam, tanto opositores quanto apoiadores, reclamando de tal medida ou tal conduta do recém-eleito.
Na presente conjuntura, não tenho a reclamar da ambientação, com as mesmas labaredas de sol estendendo-se sobre as peles, rogando por um mínimo de bronze. Não reclamo nem mesmo das filas, pois posso ler um pouco. Admito que me é estranho ver os bares todos abertos e barulhentos, mas em nada me afetam.
No entanto, apesar do calor e luminosidade, é um clima assombroso esse que se propaga nas ruas, casas, carros, e onde quer que tenha gente. Culparia o Dia das Bruxas, mas sejamos sinceros, no Brasil essa data é fraca, e seria injusto imputar o sentimento nacional a um costume importado.
É um sentimento impetuoso de receio, de algo animalesco, selvagem. Diferentemente dos sentimentos instintivos que experimentamos, este em nada seduz, e por muito menos traz a volúpia e a ânsia da paixão. Não é brutal daquele jeito deleitoso, seduzente que encontramos nos olhares e carícias dos amantes.
É o oposto. É aquilo que torna irreconhecíveis os enamorados, que retrocede as relações familiares, e dissolve os risos em rosnados. Não há sorvete algum, e tem cerveja suficiente na geladeira para satisfazer o vício.
Se há um amor lascivo e completo, esse é representado com a fotografia na urna, que olha maliciosamente para o botão de “Confirmar”.
Não é possível que a escória ganhará! Não é possível que, com as mãos tapando os ouvidos, tenha obrigação de ouvir semelhante sibilo da oposição! Não às explicações esfarrapadas e às desculpas de mal gosto! Mantenha-se quieto desde agora, às 16h, pois às 18h revelarão o resultado!
Publicado por Isabelly Rodrigues
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