Nostalgia: salvação ou escapismo? 

 por Gabriela Ferro

O dicionário define “nostalgia” como uma sensação de saudade, seja de uma pessoa, de um lugar ou de uma situação vivida. Essa sensação foi intensificada durante a pandemia e, atualmente, no contexto pós-pandêmico, ela ressurgiu. A nostalgia veio como consequência desse contexto e, tardiamente, como uma forma de sobreviver a ele, sendo tanto um modo de gerar conforto quanto de buscar um tempo que já passou.

Nesse cenário, a pandemia, instaurada no início de 2020 no Brasil, representa dois anos de inúmeras dificuldades, tanto para o país quanto para a população em geral. Nós não somente enfrentamos problemas de saúde causados pelo Covid-19 como enfrentamos problemas sociais gerados pelo isolamento social, e a solidão foi o mais predominante. Dessa forma, a nostalgia surgiu como um meio de suportar essa sensação de reclusão, o que é normal dado o contexto do mundo nesse período. Acerca disso, a professora de psicologia no Le Moyne College em Nova York, Krystine Batcho, sustenta que é comum as pessoas encontrarem conforto na nostalgia quando enfrentam perdas, ansiedade, isolamento ou incertezas. Logo, a nostalgia foi usada como uma forma de escapar da realidade.

Ademais, a pandemia gerou um sentimento de tempo “perdido”, mal aproveitado, o que fez surgir desejos hedonistas que, alinhados as mídias sociais, fez com que passássemos a usar a nostalgia como uma forma de reviver “tempos bons”, mais simples (na medida do possível). Um exemplo desse fenômeno pode ser visto no ambiente da moda, com o retorno da estética dos anos 2000 (Y2K) e 2010, que voltaram a ser tendência por sua popularização no TikTok. Sendo assim, o professor de psicologia da Universidade Estadual da Dakota do Norte, Clay Routledge, afirma: “acredito que muitas pessoas estão se voltando para a nostalgia, mesmo que inconscientemente, como uma força estabilizadora e uma forma de lembrar das coisas que mais gostam”. Assim, a nostalgia traz um sentimento de conforto e de familiaridade.

Portanto, ao nos depararmos com a situação excepcional e prolongada que foi a pandemia, passamos a buscar um meio de superar nossa solidão, nossa melancolia e de suprir o tempo que perdemos isolados e distantes da realidade, e a nostalgia se tornou uma ferramenta que possibilitou isso. Em um comportamento saudosista, nos escondemos em tempos passados e familiares como uma fuga da realidade que nos assombra, que nos machuca e que nos corrói, o que faz da nostalgia uma perfeita forma de escapismo. Afinal, qual o melhor modo de suportar a realidade do que se aventurando em vagarosas lembranças por nós carinhosamente guardadas.

Publicado por Gabriela Ferro


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