Por Jade Gomes de Souza
Em seu livro “A República”, Platão apresenta sua concepção de Justiça. Tal concepção, atrelada à noção de um governo da excelência, tem em si um lado negativo, já que pode ser relacionada aos projetos totalitários de Estado que marcaram o decurso da história. Surge daí a necessidade, não só de explanar essa concepção, mas também de explicar sua relação com tais Estados.
A princípio, tanto a organização, quanto o funcionamento da República de Platão, assemelha-se a um organismo. Nesse, cada cidadão, assim como células ou engrenagens, exercem funções específicas de acordo com suas aptidões, ou seja, sua “arete”. Consoante Platão, nesse organismo, os filósofos exercem a razão em funções de direção, como a criação de leis, sendo comparados a cabeça de um corpo. Os Guardiões, voltados para a defesa e a ordem da sociedade são, analogamente, o peito desse organismo e os trabalhadores, responsáveis por nutrir economicamente essa estrutura política, são tidos como o ventre da República. Desta forma, o equilíbrio entre essas três classes configura a justiça, isto é, a saúde da pólis, pois cada membro desta estrutura, ao desempenhar sua arete, comporta-se como células saudáveis de um corpo. Logo, a justiça se concretiza na totalidade, com a cooperação de todos os indivíduos para o bem-estar do sistema.
Ademais, é mister ressaltar que, em projetos totalitários de Estado, a justiça é pensada como um fenômeno da estrutura política. Assim, os indivíduos são vistos como células de um organismo e isso significa que são descartáveis aos olhos dos Estados, podendo ser facilmente substituídos. Isso pode ser constatado no nazismo de Hitler, em que os termos utilizados pelos alemães para se referirem aos judeus eram termos biológicos, comparando os judeus a doenças que precisavam ser tratadas ou exterminadas. Logo, assim como as células de um organismo quando deixam de exercer as funções que a elas foram designadas, devem ser tratadas ou eliminadas para que o corpo não entre em colapso, analogamente, os indivíduos que se rebelam contra o sistema devem ser tratados (preso) ou eliminados (mortos) em nome de um interesse maior, a saber, o bem-estar e a saúde do organismo.
Os projetos totalitários, portanto, herdam a forma de Platão de pensar, e, apesar do filósofo não ter culpa em relação ao holocausto, sua forma de pensar pode ser relacionada a tal acontecimento. Dessa forma, é perceptível que a República de Platão possui pontos positivos, mas alguns que merecem atenção por serem sensíveis e polêmicos.
BIBLIOGRÁFIA
A República / Platão; tradução de Carlos Alberto Nunes. – 3 ed – Belém: EDUFPA, 2000
LEWGOY Bernardo. Holocausto, trauma e memória / WebMosaica revista do instituto cultural judaico marc chagall v.2 n.1 (jan-jun) 2010
Publicado por Jade Gomes de Souza
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