Economia do cuidado

Por Larissa Sousa

O termo “economia do cuidado” conta com várias definições, mas, em suma, pode ser conceituado como o trabalho, não remunerado, majoritariamente realizado por mulheres, de dedicação à sobrevivência, ao bem-estar e/ou à educação de pessoas, bem como do local em que realizam suas atividades diárias.  Neste conceito estão abrangidas atividades como lavar e passar roupas, planejar e realizar as compras de mercado, cozinhar, limpeza da casa, cuidar da educação de crianças e da saúde dos idosos. Tais tarefas, num primeiro momento, podem parecer simples, mas ocupam boa parte do tempo das pessoas que o realizam em cada família. 

Como mencionado anteriormente, as mulheres tendem a ser as principais pessoas a realizar as tarefas de cuidado, seja por conta da estrutura patriarcal da sociedade, seja por conta do machismo arraigado nas tradições, sendo que, em média, no mundo todo, mulheres gastam 4,5 horas do dia fazendo trabalho não remunerado enquanto homens gastam metade desse tempo. A antiga concepção de que os homens “ajudam em casa” contribui para esse cenário na medida em que eles acabam não gastando o mesmo tempo realizando as tarefas e gastando ainda menos tempo com o planejamento das tarefas. 

Assim, as mulheres do mundo todo acabam tendo menos tempo, num panorama geral, para se dedicarem à suas carreiras do que os homens, posto que não só gastam muito mais tempo fazendo tais tarefas, mas também por conta da carga mental de planejar e lidar com todas as responsabilidades inerentes a tal “posto”, fazendo com que as mulheres se sintam permanentemente sem tempo e exaustas. Isto sem falar do sentimento de “fracasso” relatado por boa parte das mulheres ao se verem incapazes de dar conta de todas as tarefas que acreditam serem só suas, quando, na verdade, são delas e de todos aqueles que são cuidados por elas. 

Linoca Souza

Logo, todos aqueles que são cuidados por estas mulheres se beneficiam do trabalho não remunerado da economia do cuidado, situação que leva estas pessoas a serem capazes de dedicarem maior parte de seu tempo ao trabalho, o que, consequentemente, gera lucro para a sociedade capitalista. Desta forma, o trabalho não remunerado inerente à economia do cuidado é intrinsecamente ligado ao lucro que se espera que indivíduos gerem para a sociedade capitalista. Portanto, tal panorama se tornou um ciclo vicioso, no qual as mulheres são educadas, desde meninas, para contribuírem com a economia do cuidado, sem questionarem o fato de este trabalho não ser remunerado e muito menos reconhecido pela sociedade.

Como diz o ditado popular, “não existe solução fácil para problema difícil”. O cenário gerado pela economia do cuidado demanda diversas iniciativas para alcançar alguma solução, já que se trata de um problema histórico e estrutural. Logo, são necessárias políticas públicas que ofereçam uma margem de solução para este panorama, isto é, que ofereçam a estas mulheres serviços que lhes permitam utilizar este tempo de outras formas, seja voltado às suas próprias carreiras, seja voltado a outras atividades, por exemplo, com cuidados de sua própria saúde. 

Dentre tais políticas públicas, podemos citar o oferecimento de um maior número de creches, sendo que devem ser disponibilizadas também creches que atendam 24 horas por dia, posto que são muitas as mães que trabalham no período noturno; instituir matérias de “tarefas domésticas” na grade curricular das escolas, de forma que tal conhecimento não fique restrito à transmissão familiar, a qual tende a ser feita apenas para as meninas; dentre outras políticas. Ademais, também é necessário ressaltar a importância das iniciativas individuais, por exemplo, por meio da educação familiar, ensinando as crianças, desde cedo, que as “tarefas domésticas” devem ser realizadas por todos os moradores daquela casa ou daquela família. 

Referências bibliográficas

“Economia do cuidado”, publicado na revista FAPESP, em janeiro de 2021. [https://revistapesquisa.fapesp.br/economia-do-cuidado/]

“Verbete draft: o que é economia do cuidado”, publicado em Draft, em 21 de agosto de 2020 [ https://www.projetodraft.com/verbete-draft-o-que-e-economia-do-cuidado/]

“O que é economia do cuidado?” , publicado em B9 Podcasts, em 07 de maio de 2021 [https://www.b9.com.br/shows/mamilos/mamilos-300-o-que-e-economia-do-cuidado/] 

Publicado por Larissa Sousa


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