Por Leonardo Cipriano
Na minha família não existem advogados. Digo, no núcleo próximo, não temos nenhum profissional do Direito. Resolvi, em 2019, iniciar o curso e, apesar de ser o sonho da minha mãe ter um filho juiz, sempre tive a intenção de advogar. Ainda não sei exatamente em qual área: se consultivo ou contencioso, no Brasil ou no exterior; mas sei que a cada dia surgem novas oportunidades à minha frente.
Não foi em 2019 que eu finalizei o ensino médio, mas em 2013. Nessa época, que nos parece distante, foi quando dei início ao dilema da escolha de qual curso optar. Inicialmente, segui por uma linha na área da saúde e cursei por três anos a faculdade de enfermagem. Num dado momento entendi que a médio e longo prazo não seria feliz com tal escolha e, então, optei por trancar o curso — eu sou libriano indeciso, vocês precisam me entender.
No ano de 2014 foi quando eu tive, inicialmente, um contato mais próximo com advogados. Meu padrasto precisou de atendimento para uma demanda trabalhista e previdenciária, e fomos a um escritório. Lá, apesar do atendimento não ter sido ruim, saí com a sensação de terem falado comigo em outro idioma, talvez latim ou mandarim, pela quantidade de termos e brocardos utilizados. Refleti, então, que se havia sido difícil para mim, imagine para meu padrasto, que é uma pessoa que teve em sua vida menos acesso e instrução. Fiquei incomodado.
Os incômodos, entretanto, não pararam por aí. No decorrer de nossa trajetória nesse escritório, sofríamos com a falta de entendimento dos passos processuais, do que seria feito, da qualidade no atendimento e com a incessante utilização de um “idioma” que não o nosso.
Hoje, alguns anos depois desse episódio em específico, lidando diariamente com profissionais do Direito e imerso na academia que fala fluentemente o juridiquês, por vezes, apesar de me policiar no uso, me pego utilizando termos que as pessoas de fora devem, com muita probabilidade, não entender e sair com a mesma sensação que tive lá em 2014.
Entendo, um pouco mais, que o sistema e o dia a dia te consomem e você passa a viver naquela bolha em que os seus diretos falam o mesmo idioma que você. Esquecemos, no entanto, de falar a quem se destina uma parte de nosso trabalho, seja como profissional já formado ou ainda estudante, que é o cliente final.
Ao falarmos somente para quem nos entende, será que estamos de fato nos comunicando? Acredito que esta seja uma reflexão necessária. Apesar de diariamente lidarmos com a comunicação institucional, jamais deveríamos nos esquecer de que, ao final do dia, precisamos nos comunicar com todos, senão nosso trabalho estará pela metade.
Pessoalmente, creio que não devamos nos utilizar das palavras, termos e do juridiquês como um muro e nos proteger atrás dele. É necessário se dar conta de que, em diversas camadas, existe prejuízo nessa prática. Imagine o que é para uma pessoa receber um parecer jurídico em que não se tem a menor ideia se ganhou ou perdeu?
Existe um isolamento de algumas escritas e falas, o que é muito triste. Deixamos, com isso, de enxergar e nos relacionar com o outro. Preocupante, inclusive, visualizar que muitas pessoas fazem isso sem ao menos perceber, ou melhor, acreditando que está conversando e se comunicando com a pessoa à sua frente. Apesar da intenção geralmente ser boa, sem perceber, acabamos só com a meia dúzia de pessoas que nos rodeiam.
Você pode e deve ler Venosa, Maria Helena Diniz, Nucci, Capez, Scavone e Capanema, e utilizar de seus termos para falar com seus colegas de trabalho, da faculdade, professores e pesquisadores, mas ao se comunicar com o cliente, um vizinho e até mesmo um parente, devemos adequar nossa fala ao seu entendimento e quebrar o muro que nos divide, criando, então, uma ponte.
Imagem:
Davide Bonazzi
Publicado por Leonardo Cipriano
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