O sexismo e assédio contra assistentes virtuais: reflexos da sociedade

Por Beatriz Rodrigues B. Reis 

Com o advento da Era Digital, a tecnologia foi incluída e permanece crescentemente presente nas diferentes ações do corpo social, modificando suas relações e possibilitando novas formas da vida em sociedade. Você já parou para pensar que a tecnologia está inclusa em todos os dias da sua rotina? Seja no despertador do seu celular, no computador do seu trabalho, em sua televisão ou até mesmo em algum utensílio doméstico como os “robôs aspiradores”, de fato, tais ferramentas facilitam diversas operações e são consideradas até mesmo essenciais para a produtividade humana.

Neste contexto, cabe citar o uso das inteligências artificiais. Kaplan e Haenlein (2019) as definem como: “a capacidade do sistema de interpretar corretamente dados externos, aprender com esses dados e usar esses aprendizados para atingir objetivos e tarefas específicas por meio da adaptação flexível”. Desse modo, as IA’s tendem a substituir diversas atividades humanas: inseridas no contexto civil, possuem alta potencialidade para trazer múltiplos benefícios multissetoriais; na área da saúde, proporcionam diagnósticos mais precisos; na agricultura, proporcionam maior precisão no monitoramento da lavoura e nas previsões meteorológicas; na segurança, permitem câmeras de reconhecimento facial; entre tantas outras formas de aplicação. (PATRÍCIA PECK, 2020)

Os assistentes virtuais são exemplo da aplicação de tal tecnologia, sendo agentes de software avançados que, a partir de uma base de dados somado às possibilidades da inteligência artificial de aprender com comportamentos humanos, reunir e analisar as informações coletadas, visam suprir parte das necessidades do corpo social, proporcionando uma experiência personalizada e com altos níveis de interação ao usuário. Diversas são as empresas que utilizam destes assistentes para otimizarem suas atividades, tendo como exemplo aquelas que respondem o cliente via mensagem indicando soluções para o problema trazido.

Neste sentido, essa interação das IA’s com a humanidade faz com que as mesmas sejam capazes de retratar aspectos de uma sociedade, sejam eles positivos ou negativos. Você já reparou que as assistentes virtuais em sua grande maioria são representadas por mulheres? Apple (Siri), Microsoft (Cortana), Amazon (Alexa), entre tantas outras. Um relatório divulgado em maio de 2020 pela Organização das Nações Unidas (ONU) define essa realidade como sexista, sugerindo que o papel da mulher seja de apoio, suporte e sempre estar disponível a ajudar.

Ainda, decorrente desta situação, o mesmo estudo evidenciou os altos índices de preconceito de gênero, assédio e obscenidades que estas assistentes recebem, as mesmas respondem apenas com mensagens passivas e tolerantes. Pensando nisso, o projeto Hey Update My Voice, em parceria com a UNESCO, visa a atualização destas IA’s para que se posicionem de maneira contundente, reprimindo estes ataques. A fim de que se obtenha maior engajamento da população, a sugestão de respostas está aberta para aqueles que se interessem, podendo estas serem gravadas por mulheres de diferentes regiões do globo.

O Bradesco foi uma das empresas que adotou o projeto para sua assistente virtual “BIA”. O banco resolveu aderir à campanha após constatar que, no ano de 2020, foram recebidas aproximadamente 95 mil mensagens envolvendo assédio sexual. Iniciativas como essa pretendem encarar com a devida seriedade o combate da violência contra mulher e promover o desenvolvimento de princípios éticos na administração da Inteligência Artificial.

REFERÊNCIAS

Imagem: https://acontecendoaqui.com.br/sites/default/files/assedio_bia.jpg 

KAPLAN, Andreas; HAENLEIN, Michael. Siri, Siri, in my hand: who’s the fairest in the land? On the interpretations, illustrations, and implication of artificial intelligence. Business Horizons, [s. l.], v. 62, n. 1, p. 15-25, Jan./Feb. 2019. DOI: https://doi.org/10.1016/j. bushor.2018.08.004. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/ S0007681318301393. Acesso em: 06 de maio de 2021.

PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital Aplicado 4.0. 1 ed. São Paulo. Revista dos Tribunais, 2021.

PIOVESANA, Matheus. Bia, do Bradesco, se junta a assistentes virtuais que não se calem ante o machismo. Disponível em: https://econo­mia.estadao.com.br/noticias/geral, bia-do-bradesco-se-junta-a-assistentes-virtu­ais-que-nao-se-calam-ante-ma­chismo,70003675590. Acesso em: 07/05/2021.UNESCO. #heyupdatemyvoice. Disponível em: https://pt.unesco.org/news/hey-update-my-voice-expoe-assedio-cibernetico. Acesso em: 07/05/2021.

Publicado por Larissa de Matos Vinhado


A coluna Território Livre é o seu lugar. Aqui, publicamos textos de pessoas de fora da nossa equipe. Por isso, o fato de o texto ter sido publicado em nosso site não quer dizer que ele reflete a opinião ou posicionamento do Jornal. Quer publicar algo? Mande um e-mail com seu texto para: jp3@cajmjr.com.br


Siga o JP3!

Instagram: @jornalpredio3

Facebook: fb.com/jornalpredio3


Mais notícias e mais informações:


Jornal Prédio 3 – JP3 é o periódico online dos alunos e dos antigos alunos da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, organizado pelo Centro Acadêmico João Mendes Júnior e pela Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie (Alumni Direito Mackenzie). Participe e fique em casa!

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Crie um site ou blog no WordPress.com

Acima ↑

%d blogueiros gostam disto: