O que está acontecendo em Jerusalém?

Nos últimos dias, cresceram os focos de tensão entre israelenses e palestinos na cidade de Jerusalém. Mas o que está por trás dessa nova onda de confrontos, considerada uma das mais violentas dos últimos anos?

Histórico

Em 1948, foi declarada a independência do Estado de Israel. Em retaliação ao ato, diante do não reconhecimento de um Estado Palestino, países árabes deram início à primeira guerra árabe-israelense. O resultado do conflito foi a divisão de Jerusalém, cidade sagrada para os cristãos, judeus e muçulmanos.

A parte ocidental ficou sob domínio de Israel, enquanto a parte oriental passou a ser controlada pela Jordânia, que também anexou a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

Em 1956, o governo da Jordânia firmou um acordo com a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) para conceder legalmente o direito de palestinos habitarem um bairro em Jerusalém Oriental, chamado Sheikh Jarrah.

No entanto, em 1967, temendo um novo ataque dos países árabes, Israel se antecipou e deu início à Guerra dos Seis Dias. Com isso, tomou o controle da Cisjordânia, da Faixa de Gaza e de Jerusalém Oriental, passando a considerar toda a cidade como sua capital, embora o fato não seja reconhecido pela comunidade internacional.

Desde então, a região se tornou alvo de grandes confrontos e reivindicações.

O que está acontecendo agora?

No dia 12 de abril, teve início o Ramadã, o mês sagrado do islamismo. Durante 30 dias, os fiéis exercem um dos 5 pilares da religião, jejuando do nascer ao pôr do sol.

Os muçulmanos costumam se encontrar no Portão de Damasco para realizar a quebra do jejum. A construção é um dos 8 grandes portais que dão acesso à Cidade Velha de Jerusalém, área murada que abriga locais sagrados como o Muro das Lamentações, a Mesquita Al-Aqsa e a Igreja do Santo Sepulcro.

Divisão da Cidade Velha de Jerusalém: em verde, o bairro cristão; em roxo, o bairro armênio; em vermelho, o bairro judaico; em azul, o bairro muçulmano. No alto, o Portão de Damasco, que dá acesso à Esplanada das Mesquitas, à direita, onde está a Mesquita de Al-Aqsa.

Esse ano, no entanto, a polícia israelense instalou barreiras de aço no portão, o que gerou a primeira onda de protestos. Alguns dias depois, grupos judeus de extrema direita organizaram passeatas contra a população árabe. Em resposta, o Hamas, movimento radical palestino que atua na região da Faixa de Gaza, lançou foguetes contra a cidade de Jerusalém.

A tensão voltou a crescer na semana passada após ser proferida uma decisão judicial determinando que algumas famílias palestinas deveriam deixar o bairro de Sheikh Jarrah, pois a população judaica teria direito àquela região. A polícia israelense iniciou o despejo dos moradores, gerando novos conflitos.

A Suprema Corte Israelense havia marcado uma audiência para analisar o caso, que acabou sendo adiada para o próximo mês.

Uma nova onda de confrontos ocorreu na sexta-feira (7), última do mês do Ramadã, após muçulmanos serem recebidos na Esplanada das Mesquitas, local que dá acesso à mesquita Al-Aqsa, com forte repressão policial. Segundo dados do Crescente Vermelho Palestino, organização humanitária que faz parte da Cruz Vermelha, 200 palestinos ficaram feridos. Já Israel informou que 17 policiais ficaram feridos.

Os conflitos se estenderam pelo final de semana e a situação foi agravada ontem, diante da comemoração do Jerusalem Day. A data historicamente é motivo de tensão na cidade, pois marca a tomada de Jerusalém Oriental por Israel, em 1967. A polícia israelense deslocou a Marcha da Bandeira de regiões palestinas para evitar novos combates, mas a tentativa foi frustrada, levando ao aumento do número de feridos.

No final do dia, o Hamas voltou a abrir fogo contra Jerusalém. De acordo com as Forças de Defesa de Israel, foram lançados mais de 200 foguetes contra a cidade. Durante a noite, Israel respondeu com ataques aéreos à Faixa de Gaza. Autoridades de saúde da Palestina relataram que 9 crianças foram mortas.

Relatos

Até o início dessa terça-feira (11), os confrontos não haviam chegado à Tel Aviv, capital econômica de Israel. Durante a tarde, no entanto, em meio a novos ataques à Faixa de Gaza, Israel derrubou um prédio residencial de 13 andares que abrigava o escritório da liderança política do Hamas.

A investida levou o grupo palestino a lançar 130 mísseis contra Tel Aviv, ataque sem precedentes na história do conflito árabe-israelense.

A aluna Daniela Goldhar, do 6º semestre, está atualmente fazendo intercâmbio em Tel Aviv e falou com exclusividade ao JP3 sobre a situação.

Esse tipo de ataque normalmente não chega em Tel Aviv, há anos a cidade não passa por uma situação assim. Infelizmente, em Jerusalém acaba sendo mais comum, por causa de toda a disputa religiosa envolvida.

Diante do lançamento dos foguetes, sirenes de ataque aéreo tocaram pela cidade e a aluna precisou se esconder em um bunker. O programa de intercâmbio já havia circulado instruções sobre como se proteger em caso de ataques.

Foi tudo muito rápido. Eu estava em uma quadra escolar jogando futebol e as sirenes tocaram. Entramos em um bunker subterrâneo dentro da escola. Na hora não fiquei tão assustada porque sabia que lá estava segura, mas agora fico preocupada em ir dormir, imaginando que a qualquer momento a sirene pode tocar de novo.

Imagem circulada em Tel Aviv sobre como se proteger de possíveis ataques aéreos

Resposta da comunidade internacional

A União Europeia se manifestou dizendo que o despejo de palestinos em Sheikh Jarrah é ilegal sob a ótica dos direitos humanos e do direito internacional. Já a ONU considerou que a ação é um potencial crime de guerra.

A manifestação dos Estados Unidos, principal aliado de Israel, veio através de Antony Blinken, secretário de Estado, que demonstrou grande preocupação com a crescente tensão na região. Blinken defendeu que os ataques devem parar imediatamente e a violência deve ser contida por ambos os lados.

O Ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, descreveu a situação como extremamente perigosa e disse que a prioridade é interromper o aumento dos confrontos, respeitando a lei internacional, os direitos dos palestinos, preservando o status quo e avançando para um horizonte político de paz abrangente.

Referências

“Jerusalem: Why have tensions escalated?”. Publicado no The Independent em 11.05.2021. Disponível em https://www.independent.co.uk/news/world/middle-east/palestinians-israel-conflict-jerusalem-latest-b1844178.html

“East Jerusalem clashes leave over 100 injured”. Publicado no BBC News em 23.04.2021. Disponível em https://www.bbc.com/news/world-middle-east-56854275

“Dozens arrested in Jerusalem clashes”. Publicado no Deutsche Welle em 23.04.2021. Disponível em https://www.wkar.org/post/300-more-palestinians-wounded-new-violence-jerusalem-day-march-canceled#stream/0

“Israel launches airstrikes after rockets fired from Gaza in day of escalation”. Publicado na CNN em 10.05.2021. Disponível em https://edition.cnn.com/2021/05/10/middleeast/jerusalem-clashes-monday-intl/index.html

“Jerusalem violence: Deadly air strikes hit Gaza after rocket attacks”. Publicado no BBC News em 10.05.2021. Disponível em https://www.bbc.com/news/world-middle-east-57053074

“Rockets target Tel Aviv after Gaza tower destroyed” Publicado no BBC News em 11.05.2021. Disponível em https://www.bbc.com/news/world-middle-east-57066275

Publicado por Rafaela Cury


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Um comentário em “O que está acontecendo em Jerusalém?

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  1. Há algumas imprecisões neste texto:
    – Não houve reconhecimento de um segundo Estado Palestino (a Jordânia é o primeiro) em 1948 porque não quiseram. Israel aceitou a partilha da ONU. Os árabes recusaram;
    – O bairro Sheikh Jarrah era uma propriedade privada de judeus antes de a região ser tomada. Os herdeiros conseguiram a reintegração de posse;
    – Por ser defensiva a Guerra dos Seis Dias, Israel tem o direito de ficar com todos os territórios conquistados, inclusive com as propriedades privadas;
    – O conflito não começou por conta de incidentes do Dia de Jerusalém nem na reintegração de posse, cujo recurso ainda não foi julgado. Começou com uma onda jovens árabes agredindo judeus ortodoxos, filmando as agressões e publicando na Internet, como motivo de orgulho. Devido à inação das autoridades, grupos reagiram por conta própria.

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