Por Maria Fernanda Marinho Vitório
Alerta de gatilho: racismo anti-asiático. Se for um conteúdo sensível para você, não leia.
No dia 17 de março de 2021, um homem abriu fogo contra quatro casas de massagem em Atlanta, nos Estados Unidos, matando 8 pessoas, sendo 7 mulheres e 6 vítimas de origem asiática que trabalhavam nos locais. O assassino, Robert Aaron Long, de 21 anos, alegou que não teve motivação racista, mas sim que ele seria viciado em sexo e escolheu os spas por serem “uma tentação (…) que ele queria eliminar”. Esse foi apenas um entre mais de três mil ataques à comunidade amarela norte-americana que foram registrados pelo Stop AAPI (Asian American and Pacific Islander) Hate, centro criado especialmente para receber denúncias de incidentes de ódio, violência, assédio, discriminação e intimidação infantil contra pessoas de origem asiática. É importante notar que a coalizão registra apenas uma fração do que seria o número real desses casos, uma vez que a grande maioria das vítimas não reporta as situações às quais são submetidas. Aqui, levanto a questão: por que esses fatos estão sendo tão pouco noticiados e levantados?

A onda de ódio contra a comunidade asiática nos Estados Unidos possui raízes históricas que construíram a ideia de “perigo amarelo”. Essas pessoas são vítimas de xenofobia desde o final do século 19, quando começaram a imigrar para o país em busca de trabalho. Há 150 anos, Los Angeles foi palco do primeiro massacre contra a população asiática nos Estados Unidos, evento que resultou na destruição da Chinatown da cidade. Esse ataque foi motivado pelo grande incômodo que a chegada dos imigrantes causou na época. Eles eram vistos como “ameaça econômica” (e, dentro da ideia do “perigo amarelo”, deveriam ser eliminados) frente ao gigante americano e passaram a ser colocados em ambientes de trabalho extremamente precários, onde eram (e ainda são) explorados. Foi a partir daí que teve início a postura segregacionista norte-americana em relação aos asiáticos, sobre os quais se disseminavam diversas calúnias que os rotulavam como “sujos” e como pessoas que espalham doenças pelo mundo. Esse pensamento deplorável ainda é recorrente, principalmente no que diz respeito à pandemia da Covid-19.
Ataques racistas e xenofóbicos contra a comunidade asiática norte-americana cresceram cerca de 150% durante a pandemia. Ativistas afirmam que o discurso de ódio disseminado pelo ex-presidente Donald Trump, que tantas vezes se referiu à Covid-19 como “vírus chinês”, foi o que levou ao aumento desses números, principalmente entre os norte-americanos de origem chinesa. Tal comportamento em relação ao vírus é mais um reflexo do preconceito enraizado na cultura estadunidense. Essa onda de terror teve como reação diversos movimentos e passeatas que gritam pelo fim do ódio anti-asiático. Sobre os ataques citados no início da reportagem, Timothy Plan, morador da Flórida que dirigiu oito horas até Atlanta para participar de uma manifestação, disse à CNN: “As mulheres que morreram… Eu vejo minha família nelas”.

Retornando ao questionamento inicial, a urgência do assunto dificulta que seja encontrada uma resposta concreta para o desconhecimento dessas notícias por boa parte da população. Especialistas ouvidos pela Folha de S. Paulo dizem que comprovar motivação racista pode ser especialmente difícil em ataques contra asiáticos porque não existe um símbolo específico ou um protótipo fácil de reconhecer contra esse povos, o que leva ainda mais à iminência de romper com ideais estereotípicos e com os rótulos que são dados historicamente à população asiática. Além disso, é preciso reconhecer que, segundo a professora Sherry Wang, da Universidade de Santa Clara, em entrevista para o Jornal Brasil de Fato, somos racistas e xenofóbicos e “tudo isso está enraizado no ar que respiramos, na água que bebemos, porque automaticamente pensamos nas pessoas como forasteiras se elas não se encaixam nos moldes do que vemos na mídia, do que ouvimos e do que presumimos que se pareça americano”.
A busca pela informação é imprescindível para nós enquanto sociedade para que, na luta por uma convivência mais democrática e igualitária, estejamos sempre dispostos a adquirir aprendizados e adotar novas posturas para o dia-a-dia. É preciso ouvir as pessoas oprimidas para chegarmos num momento histórico em que elas não precisem mais gritar para que as pessoas saibam o que está acontecendo. Não deixemos que pautas como esta sejam esquecidas, apagadas ou nunca nem vistas. O racismo anti-asiático precisa ser derrotado por meio da propagação de conhecimento e da nossa disposição em levar tal discussão adiante. Com isso, espera-se que estereótipos, rótulos e barreiras não mais apresentem adversidades a vidas dignas para os povos amarelos e que imigrantes asiáticos e seus descendentes jamais sejam vistos como forasteiros em seu próprio país.
Referências:
- Digitais
- Vídeo registra agressão contra idosa de origem asiática em Nova York. Publicado no G1 em 30/03/2021.
- Ataque em casas de massagem nos EUA deixa 13 mortos; suspeito é preso. Publicado na Jovem Pan em 17/03/2021.
- Ataques a asiáticos nos Estados Unidos aumentaram 150% durante a pandemia. Publicado na CNN Brasil em 19/03/2021.
- Estados Unidos registram milhares de ataques a asiáticos durante pandemia. Publicado no G1 em 17/03/2021.
- EUA: Manifestantes se reúnem em apoio à comunidade asiática após ataque. Publicado em Veja em 20/03/2021.
- O “perigo amarelo” na pandemia do novo coronavírus. Publicado em Justificando em 08/04/2020.
- “Asian Lives Matter”: asiáticos fazem manifestação nos EUA contra preconceito. Publicando na CNN Brasil em 28/03/2021.
- Onda de ataques a asiáticos aterroriza comunidades nos Estados Unidos. Publicado em Carta Capital em 25/03/2021.
- Vistos como minoria modelo, asiáticos americanos sofrem ameaças e ataques nos EUA. Publicado em Folha de S. Paulo em 27/03/2021.
- Ódio contra asiáticos não é novidade nos EUA, e cresce com pandemia. Publicado em Brasil de Fato em 25/03/2021.
- As origens da onda de preconceito e violência contra asiáticos nos EUA. Publicado em Veja em 27/03/2021.
Imagem: David Dee Delgado/Getty Images
Publicado por Maria Fernanda Marinho Vitório
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Excelente texto com observações cirúrgicas 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼
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