Conheça os professores da Faculdade de Direito: Pedro Alves Lavacchini Ramunno

Por Larissa Sousa e Ana Clara Morandi

Prezados mackenzistas, hoje temos a honra de falar um pouco sobre a trajetória do Prof. Dr. Pedro Alves Lavacchini Ramunno. É grande a chance de que, se você já teve a oportunidade de ter aulas com ele, na modalidade presencial, que, num primeiro contato, o tenha confundido com um aluno, por conta de sua pouca idade. Mas esta primeira impressão é rapidamente abandonada, na medida em que a pouca idade não é obstáculo para a didática e para o conhecimento transmitidos por ele, os quais fazem jus à sua formação e à sua especialização.

Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, instituição na qual também realizou seu mestrado e doutorado, ambos na área de Direito Comercial, o professor compõe o corpo docente da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie desde 2018, lecionando as matérias de Direito de Empresa e de Sociedades Empresárias. 

Sempre iniciando as aulas com músicas, suas aulas contam com uma metodologia de ensino única, incluindo tanto os reaction papers, como ele batizou os resumos semanais sobre artigos que abordam assuntos tratados em aula, quanto as provas realizadas em grupo e com questões valendo pontos extras com temas que abrangem nomes relacionados à Pokémon e remédios e frases ditas por personagens do mundo geek

Tal didática faz com que as matérias por ele lecionadas, super complexas e cheias de detalhes, tornem-se mais palatáveis a um primeiro contato, inspirando diversos alunos a estudarem e pesquisarem diversos assuntos na área do Direito Empresarial, matéria que é muitas vezes estigmatizada ao longo da faculdade. 

O professor conta com diversos livros e artigos publicados, todos na área de Direito Comercial, sendo o mais recente a obra coletiva “Direito societário e do mercado de capitais em debate: barragens, crise ambiental e responsabilidade”, escrita em conjunto com o grupo de pesquisa GEDED (Grupo de Estudos de Direito Empresarial e Desenvolvimento). Ademais, ele também apresenta diversas outras iniciativas no meio acadêmico, como o GEDDE (Grupo de Estudos de Direito Desportivo Empresarial), a CAAME (Clínica de Assessoria Acadêmica MackEmpresarial), dentre muitas outras.

Não obstante, o professor também é empreendedor: logo após se formar na faculdade, abriu seu próprio escritório, o Ramunno Advogados, cuja principal área de atuação é o contencioso societário, além de ter iniciado a Ramunno Academy, primeiramente apenas como um canal de conteúdo jurídico no Youtube, tendo se tornando, atualmente, uma plataforma de ensino jurídico, com cursos que abordam diversos assuntos relacionados ao Direito Comercial, como a negociação estratégica e a propriedade intelectual.

O JP3 teve a oportunidade de entrevistar o professor Ramunno, o qual falou sobre assuntos como carreira docente e ensino em tempos de pandemia:

1) Você decidiu seguir a carreira docente ainda na faculdade? Tem alguma dica para os estudantes que visam seguir a carreira acadêmica e docente? 

Seguir carreira docente é algo muito mais complexo do que parece num primeiro momento. Eu tive vontade, mais ou menos no meio da faculdade, de dar aula, no sentido de, de vez em quando dar uma palestra, algo do tipo. Ser professor, carreira docente, que envolve no Brasil várias atividades, é algo que só surgiu em mim depois de uns 2 anos de formado. Durante a minha trajetória, eu comecei a estagiar no terceiro ano, trabalhei em um grande escritório na área do Direito Empresarial, e no meu quinto ano de faculdade eu mudei, e fui trabalhar em um escritório boutique, na mesma área, e um pouco antes de me formar, eu decidi que abriria meu próprio escritório, dentre outras razões, para ter maior maleabilidade de tempo para me dedicar à área acadêmica- leia-se aqui, fazer um mestrado, fazer um doutorado. 

Para quem tem interesse em seguir carreira docente, a recomendação é mais simples de falar do que de fazer. Em primeiro lugar, a pessoa que quer seguir carreira docente, ela tem que ter muita humildade, principalmente quando a gente é mais jovem e tem muito conhecimento: temos a tendência, de mesmo sem ter a intenção, de se passar por arrogante, e isso afasta as pessoas. As primeiras aulas que qualquer pessoa que quer seguir carreira acadêmica vai dar, vão ser aulas por convite, por exemplo, uma palestra pontual, e só depois que vai, eventualmente, surgir a oportunidade de assumir uma cadeira em uma universidade. 

Então empatia, networking e humildade são as principais recomendações. Isso tudo porque eu entendo que o conhecimento técnico e especializado naquilo que você tem interesse de lecionar é um pré-requisito, então nem é um diferencial, nem uma dica, é um pré-requisito.

2) Qual a sua opinião sobre empreender no mundo jurídico? E como você concilia a vida acadêmica com advogar em seu próprio escritório?

Existem várias formas de empreender no mundo jurídico, pode ser desde a atividade da advocacia num escritório próprio até você abrir lawtechs, e por aí vai. Levando isso em consideração, a diferença entre o empresário e as demais pessoas é que quando o empresário sai de casa ele está correndo e assim a tendência é que a margem dele de ganho seja maior, a cobrança também tende a ser maior, porque todo empreendedor tem chefe, que é o cliente, independentemente da modalidade de clientela que ele tiver. 

Então o que eu posso falar neste contexto é que quando a gente pega um profissional que trabalha para alguém, como, um advogado que trabalha em um escritório: ele vende a hora de trabalho dele, e o tempo dele é naturalmente limitado, consequentemente a margem de ganho que a pessoa vai ter também vai ser mais restrito. Eu não estou falando que vai ser ruim! Pode ser muito bacana, vai depender de cada uma das pessoas e seus interesses.

Quando a pessoa empreende, ela acaba se desamarrando dessa limitação temporal, não significa trabalhar menos, na minha opinião, trabalha muito mais. Ganha liberdade, mas deixa de vender o tempo de trabalho e passa a vender soluções para problemas, e isso garante maior escalabilidade, maior retorno e maior risco. 

Então qual é a minha opinião: falando da minha vida, eu não me arrependo de nenhum dos caminhos que eu fiz, eu não me arrependo de ter aberto um escritório logo quando me formei (um escritório que foi aberto sem nenhum cliente). 

E como que eu faço para conciliar a vida acadêmica com advogar como empreender em outras atividades? Eu não tenho ideia! Uma vez eu fiz essa pergunta para o meu orientador, o professor José Marcelo Martins Proença, eu tinha um algo muito parecido com o que vocês fazem aqui (Jornal Prédio 3), eu abri lá na faculdade de Direito da São Francisco um periódico, o qual tinha uma seção voltada ao direito empresarial, que se chamava “Perfil”, envolvia a entrevista com professores e tudo mais. E uma vez eu fui entrevistar o meu orientador, eu fiz essa mesma pergunta para ele meio off the record . A resposta que ele me deu naquela época é a que eu vou dar para vocês: só eu sei o quanto é difícil conciliar, e só eu sei como eu não faço ideia de como eu consigo conciliar tudo. Demanda tempo, demanda uma tentativa de equilíbrio (que nem sempre a gente consegue!), e no final a gente brinca “vai dar certo” é difícil e complicado e eu não vou me arriscar em tentar explicar o “como”, vamos só partir da premissa que está dando certo! 

3)O que te inspirou a abrir a Ramunno Academy? A interação nas redes sociais, como o Instagram e o Youtube, durante a pandemia, teve alguma influência nessa decisão?

A Ramunno Academy foi um projeto que iniciou junto com a pandemia e com o isolamento social. Começou como um projeto pessoal e que tinha como um dos fundamentos principais ocupar a minha cabeça. O nível de saturação que a gente tem vivido é muito grande e desde aquele momento, logo quando eclodiu a pandemia, já existia e eu acabei decidindo produzir conteúdo em redes sociais, com o objetivo de compartilhar um pouquinho aquilo que eu sabia e ao mesmo tempo em que isso acabou virando uma atividade para mim. 

Além disso, eu entendia que seria um bom mecanismo para complementar e auxiliar o ensino, porque os primeiros vídeos que foram produzidos no canal do YouTube eram vídeos que tinham como fundamento justamente rever e sedimentar as premissas básicas das disciplinas que eu ministro na graduação, e acabou dando muito certo, o retorno foi muito bacana e só tenho a agradecer a todos que acompanham! 

Isso acabou me motivando, em um primeiro momento, a abrir outras iniciativas vinculadas ao canal! Uma delas foi o NITRA que é o Núcleo de Inovação Tecnológica da Ramunno Academy (que é uma parceria com o Legal Hackers do Mackenzie) para a produção de conteúdo voltados a direito da inovação que tem dado super certo! Outra iniciativa, que a gente vai iniciar agora é o “Direto do esporte”, que vai ser uma área focada em direito desportivo. Em terceiro lugar, o Rising Sharks, tem já vinte vídeos, que é para tentar incentivar a produção acadêmica para o futuro docente, para aquela pessoa que quer muito dar aula e não sabe por onde começar, ter no canal um momento que ele possa desenvolver isso. 

Então isso acabou levando a outras discussões e iniciativas, e tem dado muito certo! E aí o último braço, que eu decidi quase que naturalmente desenvolver (olhando pro lado do empreendimento), foi o oferecimento de cursos de alta qualidade, com alto nível de complexidade. Mas há um preço. Comparando com o mercado, é o mesmo nível de profundidade e é um curso mais acessível, que foi algo também que entende como oportuno no momento, ainda mais aproveitando essa experiência virtual. Também não tenho o que reclamar sobre o assunto! E essa última veia que é de oferecer curso foi muito engraçado, foi um dia que o nível de saturação pandêmico estava bem elevado, e aí decidi começar uma coisa nova, que motivou a surgir esse “braço” de cursos da Ramunno Academy. E é engraçado que ter um momento de tristeza durante a pandemia que me fez começar a focar em outras coisas: a tocar violão, depois a voltar a fazer exercício e tudo isso acaba levando à algo um pouquinho melhor pra gente então trate as adversidades como motivo de mudanças positivas.

4) Como foi a adaptação à docência durante a pandemia? Você acredita que o sistema de ensino remoto veio para ficar?

Quando a gente para pra olhar as metodologias de ensino e os formatos de entrega, eles são os mesmos há muito tempo. Eu sempre tive um interesse muito grande por essas discussões sobre metodologia de ensino, tanto que há alguns semestres eu tive um grupo de estudos focado em ensino jurídico, que era o grupo de estudos para a formação do futuro docente, que é uma iniciativa que eu pretendo retornar em breve.

O que surgiu disso? O ensino virtual, que vem sendo adotado durante a pandemia, é um outro formato de entrega, mas ainda é ensino. É um ensino que não necessariamente é tão fácil de implementar metodologias ativas, participativas, com a aprendizagem centrada no aluno, mas isso não significa que ele seja mais difícil, é apenas diferente. É importante também notar que o que a gente tem feito, principalmente no Mackenzie, não é EAD, é ensino virtual, por uma plataforma e formato de entrega virtual. Isso acaba dando alguma dificuldade, por parte do alunado, de retenção de atenção, e acaba tornando, para nós professores, mais cansativo o momento em sala de aula, porque querendo ou não, se você não é, entre muitas aspas, um “showman”, para captar a atenção do aluno, a atenção se perde rapidamente. Então, muda um pouquinho o tipo de entrega que a gente vai fazer, mas é algo que, para quem sempre teve interesse em metodologia de ensino, a gente muda a chavinha e manda bala.

Agora, respondendo à pergunta sobre como foi a adaptação da atividade docente durante a pandemia: ela foi, ela teve que ser. Não foi o que a gente queria, mas o resultado, me parece, foi melhor do que a gente esperava. Porque quando a gente olha para o objetivo de aprendizagem da minha disciplina, que é algo que a gente não mede, em nível brasileiro, que é o AOL (Assurance of Learning), eu não entendo que a gente perdeu. A experiência é outra, porque a vida do corpo discente não é só sala de aula, envolve troca no pátio, envolve política acadêmica, envolve outras coisas que ficam, sim, prejudicadas em razão do distanciamento social.

O mais difícil para a gente é a ausência ou a demora quanto ao retorno por parte dos alunos. Quando a gente insiste para vocês (alunos) abrirem a câmera, é algo muito importante para a gente, para podermos ter o retorno, porque a gente é alimentado, enquanto professor, pelas sensações e pelos movimentos de vocês. Quando vocês (alunos), se fecham, acaba gerando um desgaste a mais. Inclusive, fica aqui um convite caloroso para vocês, alunos, abrirem as câmeras. 

Indo para a última parte da pergunta, se eu acredito que o ensino remoto veio para ficar. Eu acredito muito no ensino híbrido. Eu entendo que não tem sentido uma aula expositiva que não tem interação com os alunos, você precisar dar a mesma aula para 5 turmas diferentes. Valeria mais a pena colocar todo mundo num plenário, mesmo que numa aula síncrona, e todo mundo ao mesmo tempo.

Mas o ensino presencial permite um maior desenvolvimento de metodologias participativas, aquilo que chamamos de aprendizado centrado no aluno. Mesmo com toda a tecnologia, não é a mesma coisa que aquela interação olho no olho para esse tipo de atividade. 

Então, acredito que a tendência é migramos para um ensino híbrido, e para complementar, eu também vejo, que tirando do nível da graduação, e indo para o nível de pós-graduação lato sensu, o ensino remoto vai acabar sendo uma tendência, e a modalidade presencial vai acabar configurando uma modalidade premium de ensino. 

Um ponto de atenção, é que provavelmente as disciplinas que vão ser direcionadas para esse ensino remoto – e isso é muito triste – a tendência é que sejam as matérias propedêuticas do ensino de Direito, que são as do início do curso e as mais importantes para garantir um nível de reflexão e crítica maior.

Por fim, o professor agradeceu pelo convite e pelo trabalho realizado pelo Jornal, permitindo a apresentação dos professores por lados diferentes .Nas palavras dele, muitas vezes tendemos a acreditar que existe um abismo entre professores e alunos que não necessariamente existe, porque os professores também têm suas dúvidas, incertezas, e sofrem com o isolamento social, com a distância dos alunos, e a coluna “quem dá essa aula?” permite uma aproximação. Como de costume, terminou com a frase de efeito que todos os alunos que já tiveram aula com ele sabem de cor: Saudações comercialistas!

Publicado por Larissa Sousa

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