Maycon Prates dos Santos, membro da ALEMack
Nunca fui muito bom em Geografia, meu talento sempre foi o Português. Porém, em uma das minhas raras concentrações nas aulas dessa matéria que abordava o território brasileiro, a jovem professora ensinara-me que o Pantanal é um dos biomas nacionais. Tão pequeno e ingênuo, eu não compreendia muito bem o significado desta palavra, tampouco os termos técnicos que a educadora empregava em aula: “O que seria planície aluvial?”. Até que, com um vocabulário mais ameno para a faixa etária que lecionava, explicou que aquilo significava que todo o território do Pantanal era coberto por água.
Mostrou-nos imagens da diversidade biológica que, até pouco tempo atrás, eu nem tinha ideia que residia dentro do Brasil. Ah, e como eram lindas as paisagens, a fauna e a botânica daquele paraíso inundado! Recordo-me de uma observação que fiz à professora: “Prô, se a Floresta Amazônica é considerada o coração do país, a gente pode dizer que o Pantanal são os rins?”. Todos na sala riram, nem a própria geógrafa se conteve com minha pueril perspicácia.
Desde então, encantei-me pelo Pantanal e nunca mais o esqueci, mesmo seguindo o caminho das Letras. Minha mãe, uma noveleira assídua, daquelas que não perde um capítulo de novela desde os anos de mil novecentos e lá vai conversa, chegou a me apresentar um enredo que possuía como título o nome do bioma: Pantanal! O lugar adquiriu um ar místico à sua beleza. Tinha até uma mulher que se metamorfoseava em onça; nunca entendi muito bem esse fenômeno, mas amava acompanhá-lo pela TV.
Hoje, este bioma está novamente em cena, não obstante lidando com o pior clímax de sua história. Momento ainda mais complicado de entender do que o misticismo da novela de outrora. Quem dera se fosse somente pessoas transformando-se em onças, aves ou anfíbios. É algo ainda mais estranho e estarrecedor – o território que sempre foi coberto pelas densas camadas de água, atualmente se encontra submerso nas chamas do agronegócio.
Agora, em minha área, posso explicar ao meu modo esse fatídico acontecimento. No vocábulo do agronegócio, o sufixo assume mais relevância que o próprio radical da palavra. Praticamente consumindo-o. E não devora só morfologicamente, mas, também, literalmente, atropelando qualquer respaldo de ética, respeito, e preservação do meio ambiente e da agricultura. O foco é exclusivamente o lucro.
Mas e os nossos governantes? Atentem-se em acrescentar o prefixo DES antes da explicação. Essa pequena sílaba remete a uma ação contrária a que o verbo denota; pois bem, continuemos. Estamos em um desgoverno despreparado que desmoraliza, descaracteriza, desmonta e desestabiliza o país; descuida de tudo. Desvaloriza nossas vidas e riquezas naturais para valorizar o dinheiro. E isso é desesperador.
Isso é o capitalismo! E qualquer coisa que se oponha a seu caminho será liquidada, seja ela uma vida ou um bioma.
Publicado por Rafael Almeida
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