Uma reflexão sobre a gordofobia

Não é surpresa para ninguém que pessoas gordas não tem um espaço definido na sociedade, independentemente da classe social, seja na catraca de um ônibus ou em um assento de avião. Além dessas pessoas serem atingidas pelo constrangimento, ainda são afetadas pelo preconceito, geralmente com frases como “o mundo não tem que se adaptar a você, mas você tem que se adaptar a ele”. Dessa forma, precisamos entender o que de fato é a gordofobia.

Não se pode negar que a obesidade é sim uma doença, inclusive classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como crônica. No entanto, um corpo gordo não é sinônimo de falta de saúde, pois, apesar de parecer irreal para uma sociedade que cultua o corpo magro, existem diversas pessoas que estão acima do peso ideal e não possuem quaisquer outros problemas, tais como diabetes ou colesterol alto — doenças que majoritariamente são associadas à pessoa gorda. Por fim, essa é a explicação prática do que é gordofobia, o preconceito e o estigma para com pessoas gordas.

Culto ao corpo magro e a normatização do preconceito em redes sociais

Partindo disso, é importante entender que a própria sociedade foi responsável por montar esse sistema em que somente o corpo magro é visto como belo e desejado. Daí surgiu a discriminação descarada e normalizada que afeta milhares de pessoas, sendo um exemplo disso a dançarina Thais Carla, em que somente a menção a seu nome  em uma roda de amigos ou em redes sociais vira uma bola de neve de piadas que de engraçadas não tem nada, a não ser para os que compactuam com a gordofobia. Desse modo, há dois pontos a serem abordados: o culto à magreza e a discriminação em redes sociais. 

Sob a perspectiva do culto ao corpo magro, não é novidade que os anos 90 e 2000 influenciaram fortemente para essa cultura. Não somente no mundo da moda, como também na mídia em si, era muito comum fotos de famosas editadas, entrevistas na tv aberta discriminando abertamente pessoas gordas, entre outros infinitos exemplos. Entretanto, esse costume não ficou no passado, como deveria, e não há evolução perceptível, mesmo com influenciadores que representem o “body positive” – movimento que busca normalizar a visão positiva de todos os corpos –, ainda há impregnado no âmago da sociedade o ódio por esses corpos.

A Coreia do Sul é um exemplo evidente disso, com seus “idols” – artistas do entretenimento – que sofrem pressão estética constantemente de todos os lados, seja dos fãs ou da mídia, com inúmeros relatos de dietas radicais, tudo para perpetuar a cultura da extrema magreza coreana. Portanto, a pressão para emagrecer vem com o falso discurso da saúde, mas fica claro que somente se trata da estética e dos moldes implementados pelas massas.

Partindo do ponto de vista das redes sociais, as pessoas gordas não têm descanso quando se trata de serem discriminadas. Digamos que uma pessoa magra poste um vídeo com o tema “tudo o que comi em um rodízio” e uma pessoa gorda também publique um vídeo com a mesma temática, qual das duas será julgada pela quantidade e questionada sobre a saúde? Como abordado anteriormente, as pessoas julgam com o falso pretexto da saúde, quando na verdade só se incomodam com o fato de a pessoa não estar dentro de um padrão imposto. 

Posto isso, as redes sociais são ótimas ferramentas para as práticas de gordofobia, dado que muitos ainda têm a falsa impressão de que “a internet é terra sem lei”.

O que diz a legislação?

Infelizmente hoje no Brasil não existe nenhuma tipificação de crime para a gordofobia, é um preconceito que “anda” à margem da sociedade. Contudo, apesar de as pessoas não serem punidas pelo crime “gordofobia” elas podem ser punidas de outras formas, dado que fere a honra e dignidade da pessoa discriminada. Assim, ela pode e deve recorrer ao Direito. 

Diante do exposto, chega-se à conclusão de que a temática gordofobia é marginalizada e não possui a importância que merece. Apesar disso, há modos de melhorar comportamentos que são forçados culturalmente, prestando atenção em falas e comparações. Veja algumas falas que podem ser mudadas:

  • “Você é tão bonita de rosto” – essa frase perpetua a ideia de que o corpo de uma pessoa gorda não é bonito;
  • “Você não é gorda, você é fofinha” – ela ser gorda não é algo ruim, apenas uma característica, não precisa tentar aliviar com uma palavra no diminutivo. Ser uma pessoa gorda não é um defeito;
  • “Você pensa na sua saúde?” –  como já vimos, ser gordo não o classifica como não saudável;
  • “Você tem que se cuidar mais, fazer uma dieta” – não é porque uma pessoa é gorda que ela não se alimenta saudavelmente ou se cuide, isso é apenas mais um dos estigmas forçados a ela.

       Referências

      ALVES, B. /. O. /. 04/3 – Dia Mundial da Obesidade. [S. d.], [S. l.]. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/04-3-dia-mundial-da-obesidade/&gt;. Acesso em: 10 mar. 2024.

      BLOG, E. P. D. Gordofobia: o que falam as leis? 3 nov. 2022, [S. l.]. Disponível em: <https://epd.edu.br/blog/gordofobia-o-que-falam-as-leis/&gt;. Acesso em: 10 mar. 2024.

      DE ARAÚJO, L. S. 5 vezes em que idols de K-pop foram pressionados a emagrecer. 14 jul. 2021, [S. l.]. Disponível em: <https://www.purebreak.com.br/noticias/k-pop-5-vezes-em-que-idols-foram-pressionados-a-emagrecer/99366&gt;. Acesso em: 10 mar. 2024.

      VIDICA, L. Gordofobia: Um conceito pra entender e eliminar (da sua vida). 8 set. 2023, [S. l.]. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/gordofobia-um-conceito-pra-entender-e-eliminar-da-sua-vida/&gt;. Acesso em: 10 mar. 2024.

      Por Geovana Soares


      Siga o JP3!

      Instagram: @jornalpredio3

      Facebook: fb.com/jornalpredio3


      Mais notícias e informações:


      Jornal Prédio 3 – JP3, fundado em 2017, é o periódico on-line dos alunos da Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, organizado por alunos do curso e com contribuição de toda a comunidade acadêmica mackenzista. Participe!

      3 comentários em “Uma reflexão sobre a gordofobia

      Adicione o seu

      Deixar mensagem para Flávia Santana Cancelar resposta

      Crie um site ou blog no WordPress.com

      Acima ↑