Apesar de sua formação em psicologia, Daniel Kahneman recebeu o Prêmio Nobel de Economia em razão de sua especialização em Economia Comportamental. Seus estudos trouxeram diversas contribuições para o mercado financeiro capitalista globalizado. Uma das principais áreas de pesquisa de Kahneman foi a evidenciação dos “dois modus operandi” do sistema cognitivo cerebral, que são: o Sistema 1, que opera de forma automática e rápida, sem nenhum tipo de esforço ou controle voluntário, e o Sistema 2, que só atua com uma necessidade de atenção manual, requerendo do cérebro maior tempo pela complexidade, necessitando maior concentração. Apesar de não estar, de fato, no cérebro, o Sistema 1 e Sistema 2 serve como uma linguagem metafórica e simbólica para que tenhamos uma percepção intuitiva de como o nosso sistema cognitivo pode atuar das duas formas: rápida e devagar.
Se, comprovadamente, o Sistema 1 cerebral descoberto por Kahneman favorece preconceitos, por que não o usamos para reduzir desigualdades? Por que os vieses cognitivos de Kahneman, foram aplicados à economia e não ao combate à discriminação racial? Por que os governos e as empresas priorizam lucro em vez de equidade social com esses estudos?
Ora, se uma das principais características do S1 é a distinção entre o que é surpreendente e o que é normal e, ainda infere e inventa causas e intenções, e, adicionalmente, o S1 pode criar estereótipos hostis errôneos que acarretam terríveis consequências estereotipadas, não seria oportuno, por exemplo, estudar tais temáticas para ofuscar as influências da concentração de poder midiático, majoritariamente branca, na criação de estereótipos raciais negativos?
A herança colonial brasileira nos trouxe, ao mundo moderno, estruturas econômicas que foram marcadas pela grande concentração de poder em pequenos grupos de maioria branca. Tal aspecto hierárquico econômico é reinante até hoje e, consequentemente, reflete-se na evolução histórica dos meios de comunicação do país. Além disso, observa-se um padrão de concentração de poder midiático no Ocidente, por uma elite branca, que contribui para a reprodução cultural de padrões de estereótipos raciais negativos.
É lamentável que as descobertas de Daniel Kahneman acerca dos vieses cognitivos sejam usadas apenas para a economia, deixando de lado inúmeros fatores da sociedade, como para promover a igualdade racial e proteger direitos humanos, também no mundo jurídico. Quem sabe, algum dia, se preze pela necessidade humana, ao invés do capitalismo.
Por Vinicius Oliveira de Almeida
Referências:
DOS SANTOS, Tiago Vinicius André. Desigualdade racial midiática: o direito à comunicação exercido e o direito à imagem violado. Grupo Editorial Letramento, 2017.
KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Objetiva, 2012.
MOREIRA, Adilson José. Letramento Racial: uma proposta de reconstrução da democracia brasileira. Editora Contracorrente, 2024.
MLA style: Daniel Kahneman – Facts. NobelPrize.org. Nobel Prize Outreach 2025. Tue. 24 Sep 2025. https://www.nobelprize.org/prizes/economic-sciences/2002/kahneman/facts/
VAN DIJK, Teun A. Racism and the Press. Routledge, 2015.
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