A Cidade como Território de Exclusão e Luta: Juventudes e Ocupações Urbanas

As cidades, muitas vezes idealizadas como centros de oportunidade, liberdade e progresso, revelam diariamente sua face mais dura: a da exclusão. No concreto das grandes metrópoles e nas vielas das periferias, o espaço urbano se organiza de forma desigual, refletindo um projeto de cidade que beneficia poucos e marginaliza muitos. Nesse contexto, as juventudes, especialmente as negras, periféricas e dissidentes, emergem não apenas como vítimas, mas como protagonistas de lutas por dignidade e por direito à cidade. Um dos exemplos mais potentes dessa resistência são as ocupações urbanas, movimentos que desafiam a lógica excludente do mercado imobiliário e constroem outras formas de habitar e viver em coletividade.

Um Espaço que Segrega…

A segregação socioespacial não é um acaso, mas um projeto. O modelo urbano vigente é estruturado para manter as camadas populares distantes dos centros econômicos e de decisão. Essa lógica se manifesta na especulação imobiliária, no transporte público precário, na ausência de equipamentos culturais nas periferias, na presença ostensiva da polícia e na ausência do Estado onde ele mais deveria estar.

Para os jovens das favelas, das comunidades ribeirinhas, dos cortiços e dos bairros afastados, a cidade não é um campo aberto de possibilidades. Ela é uma fronteira a ser atravessada diariamente, para estudar, trabalhar, buscar lazer, sob o risco constante da violência policial, do racismo institucional e da discriminação de classe. O próprio deslocamento se torna uma batalha: ônibus lotados, trens sucateados, horas perdidas em trajetos que, para outros, duram minutos.

Juventudes que Resistem

Diante dessa realidade, as juventudes se organizam. Se o poder público não garante moradia, elas ocupam. Se a escola é precária, elas reivindicam. Se a cultura não chega, elas criam. As ocupações urbanas se tornaram símbolo de uma nova forma de fazer política: horizontal, coletiva e insurgente. Mais do que um teto, elas expressam o desejo por pertencimento e por uma cidade que seja, de fato, de todos.

Nas ocupações, jovens assumem papéis de liderança, articulam debates, promovem eventos culturais e educativos, organizam cozinhas coletivas e criam espaços de escuta e cuidado. São movimentos que nascem da urgência, mas que se sustentam pela solidariedade. Ocupar, nesse contexto, é um ato político, uma resposta direta ao abandono e uma proposição de futuro.

A Escola que Pulsa nos Muros

As ocupações estudantis, como as que tomaram escolas públicas em diversos estados brasileiros entre 2015 e 2016, também revelam o poder mobilizador das juventudes urbanas. Diante de reformas que desconsideravam suas vozes, estudantes ocuparam as unidades de ensino, exigindo participação nos rumos da educação. Nessas escolas ocupadas, as aulas continuavam, mas com outro conteúdo. Debates sobre racismo, feminismo, identidade de gênero, política e cultura floresciam entre carteiras rearranjadas em círculos.

Essas experiências mostraram que os jovens não estão apáticos, como muitas vezes se quer fazer crer. Pelo contrário: estão atentos, organizados e dispostos a lutar por uma cidade mais justa e uma escola mais plural.

A Repressão como Resposta

Se a ocupação é a linguagem da ausência, a repressão é a resposta de um Estado que se recusa a dialogar. Jovens que ocupam terrenos ociosos ou prédios abandonados são tratados como criminosos. A resposta vem em forma de despejos violentos, criminalização dos movimentos sociais e invisibilização midiática. As ações policiais, muitas vezes desproporcionais, refletem a seletividade do sistema: enquanto prédios ociosos de grandes empresários seguem impunes, barracos de madeira são destruídos com brutalidade.

A mídia tradicional, em muitos casos, contribui com a estigmatização, retratando os ocupantes como “invasores”, “baderneiros” ou “aproveitadores”. Pouco se fala sobre os motivos que levaram aquela juventude à ocupação: o desemprego estrutural, o déficit habitacional, a falta de políticas públicas.

O Direito à Cidade

O conceito de “direito à cidade”, formulado pelo sociólogo francês Henri Lefebvre, ganha novas camadas quando olhamos para as juventudes periféricas. Para elas, esse direito não se limita ao acesso físico aos espaços urbanos, mas envolve o direito de transformar, de decidir e de construir coletivamente esses espaços. É o direito de viver a cidade em sua plenitude com moradia, transporte, cultura, segurança e afeto.

As juventudes que ocupam não querem apenas sobreviver; elas querem viver. Querem dançar no asfalto, pintar os muros, plantar em terrenos baldios, educar suas crianças, amar sem medo. Querem reescrever o mapa da cidade com suas cores, vozes e histórias.

Um Novo Horizonte…

As ocupações urbanas, lideradas por jovens, são sementes de um outro projeto de cidade. Um projeto que rompe com a lógica do lucro e do controle e aposta na solidariedade, na partilha e na justiça social. Esses movimentos nos ensinam que é possível resistir mesmo diante do concreto armado da exclusão.

Mais do que nunca, é preciso escutar as juventudes e reconhecer sua potência. Porque, em um país que insiste em negar o futuro a seus jovens, ocupar é resistir, e resistir é criar caminhos onde antes havia apenas muros.

Publicado/Editado/Escrito/Desenhado por Bruno M.Z.A.S.B.C.

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