Por Júlia Cardoso Nystrom e Maria Fernanda Marinho Vitório
O Jornal Prédio 3, com muito entusiasmo, traz uma entrevista exclusiva com o Prof. Dr. Daniel Tavela Luís, especialista em Direito Internacional, com atuação destacada em Contratos, Direito Internacional Privado e Público, Empresarial e resolução de conflitos.
Daniel Tavela Luís é um advogado apaixonado pelo direito empresarial, com um especial foco em contratos comerciais e comércio internacional. Como responsável pela coordenação da atuação consultiva do escritório MLuís Advogados Associados, Tavela tem como missão definir estratégias para casos complexos que envolvem negociações difíceis nas áreas do direito empresarial, contratos comerciais e direito de família. Possui um olhar atento e especializado sobre as diversas questões legais e empresariais, incluindo negociações, fechamentos e revisões de contratos, resolução de conflitos, proteção patrimonial, litígios relacionados à recuperação judicial e extrajudicial, auditoria legal e assistência jurídica geral em questões de direito societário. Além disso, Tavela é um professor experiente da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie e autor de artigos em periódicos diversos e capítulos de livros, o que demonstra seu compromisso em compartilhar seu conhecimento com outros profissionais do ramo, bem como com a comunidade discente do nosso querido Mack.
Nesta entrevista, tivemos a oportunidade de conhecer não apenas o Professor Doutor e o irreverente Advogado Daniel Tavela Luís, mas também o maratonista, amante de cachorros, marido, fã de música pop, leitor, universitário e divertidíssimo Daniel Tavela Luís. Em uma abordagem descontraída e intimista, exploraremos suas atividades de lazer, vida profissional, hobbies e a relação com a instituição que o formou.
Recomendamos fortemente acompanhar o professor em suas redes sociais, sendo essa uma excelente forma de se manter atualizado sobre a geopolítica global através de um olhar jurídico especializado, além de trazer o benefício de ver imagens da Tartufa, a fofíssima cachorrinha do professor.
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A seguir, está a transcrição da conversa da nossa equipe com esse ilustre professor mackenzista.
Júlia: Qual é uma das primeiras coisas que você fala quando conhece uma turma nova? Quais as principais coisas que os alunos devem saber sobre você?
Bom, acho que a primeira coisa a se falar é que, depende, se for de dia “bom dia” e se for de noite “boa noite”.
Maria Fernanda e Júlia: risos
É basicamente uma apresentação minha com um pouco do currículo. Eu sempre fiz apresentação com base em currículo, e mais recentemente eu resolvi mudar e fazer uma apresentação de quem eu sou. Porque, na verdade, a gente divide em: o que eu fui, que é o currículo, o que a gente faz e ninguém se preocupa com o que você é, com o que você gosta. Eu comecei a achar que era legal fazer alguma coisa que se chama hoje em dia de ensino por check in, que é você dar uma “quebrada” na introdução para os alunos com o que você gosta de fazer, além da vida profissional. Então, a gente fala um pouco de família, quando eu casei, como foi o casamento, sobre a minha cachorra, falo o que eu gosto de fazer – tipo, qual esporte. É um pouco nessa linha, como uma boas-vindas.
E claro que depois tem uma primeira introdução do curso. Também é legal ouvir os alunos. Eu acho super importante que a gente consiga criar um pouco de bonding em sala de aula, além de ver quem tem interesses comuns. Voltando desse modelo on-line para o presencial isso tem sido ainda mais importante, já que as pessoas ainda não se viram pessoalmente, então começamos a desenvolver esses interesses.
Maria Fernanda: O direito internacional é uma das matérias que mais atrai o interesse dos alunos, principalmente dos calouros. Você acredita que a forma como você se interessou pelo direito internacional é a mesma, no sentido de que você também era um calouro emocionado? E as expectativas dos alunos para a disciplina serão atendidas?
Acho que não fui um calouro emocionado com o direito internacional. Começa que eu não tive na minha faculdade – a FGV – direito internacional propriamente dito. A gente tinha uma matéria que se chama Direito Global e quando eu tive,fui da primeira turma da GV, então a grande pergunta do curso era, no final das contas, saber o que raios era o Direito Global. Era uma coisa meio epistemológica, você queria definir o que esse negócio significava, e esse era um pouco do mote que o professor Salem nos deu. Então eu tinha interesse porque eu gostava, quem não gosta de falar de algo internacional? “Ah, vai ter alguma coisa fora do Brasil”, mas eu não era emocionado… como eu vejo hoje, esse está sendo um semestre de altíssimas emoções para o direito internacional público, afinal tem uma guerra acontecendo, então tá tudo muito ligado nisso. Mas eu não acho que eu tenha sido um aluno tão emocionado. Eu fiquei mais emocionado com o direito internacional quando eu passei a ter experiências internacionais na graduação, com competições internacionais. Mas eu gostava do direito internacional porque eu achava divertido falar sobre os Estados, falar um pouco sobre como era a formação, mas não era um ordenamento jurídico muito diferente daquilo que a gente aprende na faculdade e desde a graduação você fala “será que isso vai ser, um dia, tangível pra mim?”, eu não pensava em ser um diplomata, por exemplo, então, para mim, não era essa emoção total. Mas quando a gente foi indo pra umas coisas mais privadas, falar um pouco mais de contratos internacionais, foi aí que começou a despertar algumas paixões mais fortes. Eu sempre fui um cara mais do privado do que do público, talvez por isso.
Júlia: Nós observamos uma forte presença do direito privado no seu currículo.
É então, eu sempre fui um cara que estudou… se você pegar o meu mestrado ou meu doutorado, muita gente fala “putz, você é muito de privado por causa do seu mestrado e doutorado”, mas na verdade não. Meu mestrado e meu doutorado são mais de público, mas é que eles tem uma pegada de privado por falarem de investimentos, basicamente, e aí quem investe são empresas. Foi um pouco isso, foi por esse lado comercial, de contratos que foi me trazendo pro direito internacional e aí eu fui entendendo a importância que o direito internacional tinha – que não é uma importância que você vê escrita hoje nos principais currículos. Se pegar, por exemplo, hoje um manual de direito internacional público, ele vai ser incrivelmente clássico em falar o papel do Estado, o que forma o Estado, como se dá a regulação por meio de tratados, costumes e tal, o que fica muito intangível. Aí quando você vai ver, por exemplo, a relação jurídica internacional entre duas empresas, você começa a perceber que tem, em vários setores, elementos do direito internacional público que impactam muito as empresas no dia a dia e que as pessoas não olham. Então foi isso que me chamou pro direito internacional, e aí em algum momento eu cai no direito internacional público e fui ficando e desenvolvendo gostos maiores, né?
Júlia: Qual é o perfil de um aluno que vai se dar bem na sua matéria? É o mesmo tipo de aluno que gosta de ver o programa do aeroporto e que tá sempre vendo documentário no History?
Acho que não, acho que tem vários perfis. Eu diria que o perfil é do aluno que é curioso, é o melhor tipo de aluno, na verdade. O melhor perfil de aluno, em geral, é aquele aluno que tem curiosidade legítima, não é aquela curiosidade do tipo “eu tenho uma ideia e eu vou comprovar ela, então vou sair por aí jogando as minhas ideias para ver se algum professor consegue validar elas”, não. Tem que ser aquele aluno que quer investigar um pouco mais, esses são os alunos mais legais de se trabalhar, e que se dão melhor no direito internacional. Até porque, o direito internacional é um Direito que traz alguns desafios diferentes, né? Que vai falar de efetividade, que é a grande fronteira do direito internacional público – do direito internacional privado é um pouco menos, mas no público a grande fronteira é a efetividade – e aí como você faz pra construir essa efetividade? Você só vai conseguir descobrir isso sendo criativo, acho que esse é o principal ponto.
Aí, o que que acontece? O pessoal que gosta de ver seriados e tal, tipo a série do aeroporto, esses são causos que são divertidos para despertar essa curiosidade, mas você pode ver, a série do aeroporto, por exemplo, ela podia muito bem te despertar curiosidade sobre direito internacional, como podia muito bem também ser direito aduaneiro, porque tem tudo a ver com tributário e nada a ver com internacional, quase nada, então não é exatamente isso que vai definir, sabe? Mas o aluno que é curioso, aquele que gosta de línguas, geralmente gosta de direito internacional, porque é onde tem mais chances de usar essas línguas diferentes. Acho que são esses perfis.
Maria Fernanda: A próxima pergunta é bem sobre isso, pegando o gancho. A gente ia pedir recomendações de conteúdo midiático pra quem gosta de direito internacional e de direito empresarial, já que o senhor trabalha com isso. Enfim, série, filme, podcast…
De mídia, hoje em dia, está fácil pro direito internacional, leia o jornal todo dia que vai ter alguma coisa falando sobre a Ucrânia, falando sobre a Rússia, sempre vai ter alguma coisa. Acho que é uma ótima recomendação.
De filmes, tem “O Terminal”, que é um clássico do direito internacional, fala muito sobre começo e fim de Estados, pessoal que está tendo aula comigo neste momento sabe muito disso, também fala muito sobre relações diplomáticas. “Hotel Ruanda” é um filmaço para falar sobre o papel da ONU, como funcionam os capacetes azuis e tal.
De séries, tem o clássico de “Suits”, que todo mundo gosta e ficou famoso. Tem uma série dos anos 90 que é maravilhosa, chamada “Boston legal” e ela é genial, eu descobri que tem na amazon dos Estados Unidos, aqui eu não achei ainda como streaming.
Com podcasts, eu vou dizer, eu tenho uma dificuldade de achar podcasts jurídicos. Na verdade, eu estou em busca de indicações. Eu gosto muito de dois, que eles não são exatamente jurídicos, mas eles vira e mexe tem um episódio que fala sobre Direito ou sobre o papel do direito. O meu preferido é o “Freakonomics”, que também tem um livro muito interessante e que fala sobre vários assuntos. Tem também um muito divertido chamado “No Stupid Questions”, que é uma parceria com os autores de Freakonomics e o propósito é fazer perguntas que, em geral, as pessoas não fazem. Vira e mexe também tem algumas perguntas que envolvem Direito, uma vez a cada x meses. Eu gosto de seguir eles, mas sempre aceito novas dicas de podcasts, principalmente aqueles que são bons para ouvir no trânsito. Tem um que acho que deve ser muito interessante para muita gente e que chama “O lado B do Direito”, fala sobre saúde mental no direito e é do direito 4.0. Todos esses valem muito a pena, mesmo que eu não siga muito. Tem um que chama “Quebrando Paradigmas” e basicamente é um amigo mackenzista meu fazendo perguntas e quebrando paradigmas do Direito, já que ele enfrenta muitos desafios regulatórios no trabalho e ele sempre tem um ponto de vista interessante sobre isso.
Júlia: Qual foi o momento da sua vida universitária que mais te marcou?
Quando participei de uma competição acadêmica em Paris. Tinham algumas equipes alemãs e nós éramos a única equipe brasileira. Harvard estava na semifinal e anunciaram que a gente tinha passado. Éramos três alunos e dois coaches, a gente conseguiu fazer aquilo virar um pandemônio de tanto que a gente gritou – clássico de equipes brasileiras em competições desse tipo – e aí, minutos depois que pediram silêncio – estávamos super ansiosos pela final, ninguém mais aguentava comer de tanto nervoso – chegam os caras de Harvard e vieram dar um cartão para a gente na maior humildade e falaram que tinham um pedido para nós… “ganhem desses caras porque eles ganharam da gente nos Estados Unidos”. E aí foi aquilo né… os caras de Harvard vindo falar isso! Aí ficamos no “ok, vamos tentar”. O outro time era muito mais velho, eu devia ter uns 20 ou 21 anos, e eles deviam ter uns 25, 26 anos, e eram de uma das melhores universidades de negociação dos Estados Unidos. O feedback que recebemos do painel na final foi uma das coisas mais incríveis que eu já vi. Foi um dia que estávamos em uma dupla muito inspirada. A abertura foi bonita, a sessão funcionou, teve até piadinhas e a plateia dando risada. Ouvimos de uma super mediadora que os americanos foram muito “seguindo o manual”, e nós fomos mais inspiradores. Foram esses os highlights da faculdade, e isso foi definindo o que eu fui fazendo depois. Fui treinar as equipes, fiquei 10 anos envolvido nisso na FGV, depois vim para o Mackenzie, continuei envolvido com competições… então foi muito marcante.
É, foi muito legal. E era um time muito gostoso de trabalhar. Éramos muito amigos, que ficaram para sempre. E na volta para o Brasil tinha festa no aeroporto, os pais vinham receber com faixas, tinha um monte de entrevista para dar.
De perrengue, sempre tem um ou outro. A gente ia para as festas de carro, aí era eleito o motorista da rodada e você sai da festa e tem um amigo seu passando meio mal e vomita no seu carro inteiro… isso acontecia de vez em quando. Deve acontecer até hoje com todo mundo. Foi um dos maiores perrengues, o rapaz estava malzão. Mas deu tudo certo, hoje a gente é sócio!
Maria Fernanda: Professor, a gente queria saber qual é o tipo de trabalho que você mais gosta de receber no escritório, como peças processuais, contratos… e o que você menos gosta também.
Eu estou num ponto da minha carreira em que eu gosto de tudo que eu faço. Sempre tem uma coisa ou outra que é um pouco mais chata, mas eu gosto muito de negociação de contrato financeiro, tenho feito várias operações grandes de contratos internacionais. Hoje, estávamos fechando uma operação de duzentos milhões de reais, mais ou menos. Os trabalhos que eu mais gosto são aqueles que podemos fazer a negociação diretamente com a diretoria de determinada empresa, mas não necessariamente. Uma das características que temos no escritório, é que eu não trabalho só com a diretoria jurídica, geralmente, eu trabalho muito próximo da diretoria financeira e do CEO. Acaba sendo um pouco esse braço direito, que dá um suporte a nível de diretoria para os advogados internos. Tem também muitos desafios legais, não somente casos milionários… adoro quando tem clientes que vêm buscar alguma dica ou querem uma assessoria para desenvolver, por exemplo, todo um processo de negociação. Você pega o processo desde o começo, vai tentando montar a alocação de interesses, qual será usado estrategicamente num processo para tentar melhorar a posição de negociação e tentar trazer a pessoa para a mesa… e aí tentar desenvolver como isso funciona, o que é meio que um pré-litígio. É sempre muito divertido trabalhar isso com startups, porque o pessoal tem muita criatividade, sempre faz umas coisas muito loucas, e aí, a gente precisa tentar traduzir isso para o universo jurídico, o que é estranho, né?
Em geral, eu não sou muito fã dos litígios, mas na verdade, nada supera a adrenalina do contencioso. Você vai para a guerra das trincheiras tentar conseguir uma liminar, algo que pode ser um game changer na vida do seu cliente, é uma delícia. Gosto da responsabilidade, gosto da pressão, acho é divertido. E é aquilo, a gente tem que estar sempre focado.
Sustentação oral também é muito gostoso de fazer, mas preparação de audiência de instrução e julgamento, que você tem que fazer cross examination, testemunha, examinação cruzada, é uma delícia, é demais. A gente teve um caso – o principal caso do escritório na época – quando eu estava fazendo doutorado ainda, estudando em Nova Iorque, e aí marcaram uma audiência para uma cliente que pediu que eu comparecesse. Aí eu expliquei que eu estava fora, mas não tive escolha. Ela mandou a passagem e eu fui. Era uma audiência pesadíssima, ouvimos umas 18 testemunhas. No primeiro dia, ouvimos 4 dessas 18. Fomos das 14h às 19h direto, sem pausa. Um monte de pergunta. Conseguimos pegar a outra parte no pulo, demonstrar as contradições, foi bem divertido. Eu lembro quando eu estava fazendo as perguntas e a juíza me interrompeu e disse “Doutor, seu ponto está claro” eu falei “que bom”, e continuei fazendo as perguntas, na mesma linha, ela deixou claro que já tinha entendido mas eu insisti em não terminar ali, estava determinado a fazer tudo de um jeito que todos iriam entender.
Quando eu comecei como estagiário nem tudo era legal, mas tudo era uma chance de aprender. Eu sempre me divertia com umas coisas sem noção. Tipo uma auditoria, é chato fazer uma auditoria? É chato fazer uma auditoria. É chato fazer um relatório de auditoria? É chato fazer um relatório de auditoria, mas você aprende, você conhece uns contatos. Era isso, eu era muito curioso. E, eventualmente, você conhece uns contratos diferentes e vira e mexe você descobre umas coisas bizarras. Tipo, eu tinha um colega de estágio que estava fazendo uma auditoria e ele disse “Poxa, que coisa estranha, esse cara se chama senhor espólio de não sei quem”, claro, ele não fazia ideia, ele era mais novo do que eu. Eu sempre tive oportunidades de me divertir com isso, eu achava legal, mas o segredo para o direito ficar mais divertido é você ter curiosidade, sempre tem uma coisa legal e tem as coisas chatas, então o segredo é você executar as coisas chatas o mais rápido o possível e ir atrás das coisas que você se interessa.
Quase 10 anos para chegar ao ponto de eu poder ir atrás das coisas que eu gosto, em quase tudo.
Júlia: Falando em diversão no trabalho, quando estávamos pesquisando sobre a sua carreira, vimos algumas entrevistas em que você falava sobre o ilustre Carlos Bandeirense Mirandópolis.
Grande personagem do direito brasileiro. risos
Júlia: Eu fiquei fascinada com a história, porque para mim foi incrível como isso foi um precursor da situação que estamos vivendo hoje das fakes news. A gente queria saber qual foi a sua reação quando você viu uma persona fictícia sendo citada em documentário, em decisão judicial… Foi uma mistura de riso com preocupação ou riso de preocupação?
Na hora mesmo eu só dei risada, achei divertidíssimo o fato de que tem decisão do TJRJ que citou ele, teve documentário também produzido no Rio, tudo isso começou por causa do Rio Grande do Sul. Depois, veio um pouco de preocupação, quando a matéria chegou na página principal do Globo.com, porque a primeira vez que você espera aparecer na Globo não é exatamente em um caso de um perfil criado com um propósito específico que se perdeu ao longo do tempo.
Júlia: O propósito era sacanear estagiário? risos
Não era sacanear, isso é injusto com o objetivo acadêmico-pedagógico que a gente tinha com aquele estagiário especificamente risos. Era de fato um objetivo acadêmico-pedagógico. A história por trás, é basicamente de um estagiário que se negava a fazer pesquisa da forma que a gente tinha ensinado: “cuidado com as suas fontes, não utilize Wikipédia, não utilize só Jusbrasil ou Migalhas, tem que fazer pesquisas que você consiga ter validação da sua fonte”. Porém, mais de uma vez, a gente dava feedback e nada dele melhorar, até que chegou determinado momento que a gente falou: “Bom, se a gente não consegue ensinar a lição por meio de feedbacks, talvez ele precise sentir um pouco mais a consequência e vivenciar a experiência de uma coisa absurda.” E era para ter parado ali dentro do escritório, quando falamos para o estagiário fazer uma pesquisa sobre oferta pública de associação, que não tem nada a ver com o Carlos Bandeirense Mirandópolis, que era um instrumento de validação da oferta pública de associação. E aí a gente descobriu alguns problemas do Wikipédia, de como ele mantém as páginas ativas e tal, e fizemos as alterações que tinham que ser feitas em algumas outras páginas… Até aí, nada de errado, porque o propósito do Wikipédia é que qualquer um possa mexer. Ele, inclusive, deixava expresso lá “cuidado, artigo não validado”, então estava claro no Carlos Bandeirense Mirandópolis. O problema é que, como o Wikipédia não faz essas referências cruzadas nos artigos que foram mencionados, a pessoa faz a pesquisa, por exemplo, sobre Ditadura Militar ou Redemocratização, e ela achava lá que Carlos Bandeirense Mirandópolis lutou do lado do Fernando Henrique, do Lula, do Chico Buarque, como um libertador do Brasil e como um grande democrata, que ele de fato foi. Então, isso surge, vai para uma pesquisa de mestrado, que vira depois um documentário, que depois virou uma decisão… Uma coisa absurda. Mas os comentários que fizeram na Globo.com foram bons, veja, teve acusação de estelionato. Foi divertidíssimo, bem curioso. Acho que esse caso foi uma das grandes obras primas, se eu pudesse pôr no lattes uma estrelinha com Carlos Bandeirense Mirandópolis, eu colocaria como uma das grandes obras primas que a gente teve como produção risos.
Júlia: Eu cheguei a ler a explicação na Wikipédia e eu lembro que estava dizendo que ele escreveu música com Chico Buarque, que morreu no exílio. Eu fiquei impressionada com a quantidade de detalhes, parabéns para vocês! risos
Isso de fato são créditos todos atribuídos aos meu sócio, porque eu não tenho essa criatividade. Eu dei uma ideia de fazer um pedaço e ele tinha uma liberdade poética de escrever isso 1h da manhã, que foi incrível. Foi sensacional, perfil muito bem escrito, de fato.
Júlia: Mas que dava para perceber que era falso…
Aí que tiveram pontos. Por que esse perfil foi ganhando outros ares? Porque quando a gente contou essa história para outros professores que estavam começando a dar metodologia de pesquisa como a gente, a história de Mirandópolis era exemplo de como você não deveria fazer pesquisa. Ele era um ótimo case para ser usado pedagogicamente e não foi só por mim, foi usado na FGV, na UNB, no Rio Grande do Sul, em um monte de lugar. Só que conforme a gente ia contando a história, as pessoas iam dando uma “mexida” no perfil, porque todo mundo podia mexer. O perfil original não tinha foto, colocaram uma informação a mais aqui ou ali e virou uma obra coletiva de várias pessoas que nem sei quem são. A gente só teve a ideia inicial, que foi boa. Foi um highlight da carreira.
Maria Fernanda: Eu adoro a próxima pergunta. Professor, a sua bio do instagram diz: “maratonista/professor/advogado”. Qual desses te faz correr mais?
risos Acho que é o combo dos três, um super combo dos três. Não sei qual me fez correr mais. Eu acho que a vida advogado/professor já é muito corrida, tipo o combo. Se fosse só a advocacia, ela seria corrida, mas assim, você consegue temperar um pouco mais quando você coloca a advocacia num ritmo empresarial, que cada hora te chamam em um canto com um regime pré definido de aulas, somando todas as outras coisas: coordenação e “não sei o que e tal”, é aí que esse combo vira uma correria “lascada”. Mas em quilômetro rodado, sem dúvidas o maratonista. O resto é só roda de carro ou de metrô. E as coisas estão relacionadas, tipo, uma coisa se relaciona com a outra. Poucas pessoas percebem isso. A maratona me ajudou muito em ser um professor ou um advogado melhor, muito embora as pessoas não percebam isso. Não são exatamente segredos, mas umas características de uma maratona, você desenvolver uma habilidade de foco e perseverança, e resistência a dor absurdas risos claramente não saudáveis, então isso vai meio que te ajudando no perfil acadêmico e profissional advocatício também.
Júlia: Bom professor, a gente queria agradecer muito pelo o seu tempo, pela atenção e a gente só queria fazer uma última pergunta para finalizar. Quais são as cinco características que você usa para se descrever e não vale falar as do instagram.
Cinco características que eu uso para me descrever. Você quer em uma palavra, assim?
Maria Fernanda: Como você achar melhor.
Júlia: O que vier agora.
Eu diria que resiliente, persuasivo. Eu preciso escrever, se não eu vou esquecer.
Maria Fernanda e Júlia: risos
Resiliente, persuasivo… Eu não sei exatamente a palavra, mas assim, que gosta de aproveitar a vida ao seu máximo.
Maria Fernanda: O seu resumido: “sem tempo ruim”
Não, tem uns tempos ruins, né? Tipo os perrengues, mas dá para aproveitar a vida ao máximo. É bem isso, posso ter uma vida corrida? Posso ter uma vida corrida, mas..
Maria Fernanda: Sim, sim.
Quando eu chegar com uns 80 anos, eu vou olhar pra trás e falar assim: “cara, bem vivido”. Fiz muita coisa legal, sabe? Amante de cachorros. Adoro cachorros, particularmente da “Tartufa”, mas dos outros também, eu tenho outros, né?
Maria Fernanda: Ela tá ouvindo…risos
Tartufa mora aqui em São Paulo, então as outras eu vejo menos. E, que mais eu poderia falar? Nossa que difícil gente. Cinco é muita coisa né?
Júlia: Falta uma.
Pois é. Tô tentando lembrar aqui. É, eu acho que eu diria divertido. As pessoas não me dão como uma pessoa divertida, mas eu me acho uma pessoa particularmente divertida. É que você precisa quebrar algumas barreiras, para ver que eu posso ser divertido. Fica o desafio pra quem quiser.
Encerramos esta publicação com a certeza de que tivemos a honra de conhecer um pouco mais sobre a vida e a trajetória profissional do Prof. Dr. Daniel Tavela Luís. Sua atuação, destacada na área do direito internacional e empresarial, é uma inspiração para os estudantes e profissionais da área. Além disso, sua disposição em compartilhar sua vida pessoal e experiências durante a graduação na FGV, de forma descontraída e intimista, permite que possamos ver o Prof. Tavela como um ser humano completo, com interesses, desafios e superações. Agradecemos imensamente a oportunidade de realizar esta entrevista e esperamos que inspire a todos que estão em busca de sucesso na carreira jurídica.
Publicado por Júlia C. Nystrom
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