por Rafael Almeida
Em alguns momentos, as surpresas da vida são interessantes. Pense comigo: num dia ensolarado na praia, você se acomoda na areia, passa protetor e descansa enquanto aproveita a vista. Depois de muitos dias trabalhando e estudando, parece ser um bom jeito de relaxar, não é? Pois bem. O que não dá para imaginar é o que pode acontecer durante sua maravilhosa tranquilidade.
Falando por mim, a narrativa acima foi exatamente o que me ocorreu. Há uma diferença, entretanto, entre mim e você: eu não sou humano. O significado disso deixarei em suas mãos. Apenas foque a minha história.
Costumo dizer que uma longa e pacífica estadia na praia acalma não somente o coração, mas, também, os cabelos. Já viu como esses ficam quando o estresse diário te domina? Um caos. Minha vida é um caos. As praias, no entanto, são meu refúgio. Por viver bem próximo das águas salgadas, posso visitá-las sempre que preciso de um tempo para minha mente. Em um desses dias, porém, um acontecimento curioso me sacudiu.
Após ter passado meu sagrado protetor solar – sério, não fico sem –, uma pequena criatura apareceu diante de mim. Não era uma criatura familiar, apesar de já ter visto diversas vezes sua versão mais velha. Seu rosto era inocente e me fez lembrar da época em que não era necessário trabalhar por horas seguidas. Talvez nunca tenha sido, embora seja parte de minha rotina.
Aquele pequeno broto, quando percebeu a presença de um indivíduo que, aparentemente, era seu pai, olhou nos meus olhos fixamente, como se estivesse implorando por algo. Seria um engano meu? Bom, o que sei é que, ao se afastar, diversas lágrimas surgiram. Algo não parecia certo. Mas o que eu poderia fazer, já que estava em um momento de repouso? Ora, não posso e não vejo propósito em interferir nos problemas alheios. Prefiro continuar encantado com a vista do pôr do sol e cuidando dos meus cachos. Aliás, sabia que meus cabelos são cacheados?
Essa foi a decisão. Não interagi com aquela criatura, muito menos com seu pai. Meus amigos concordariam comigo, tenho certeza! Quem em sã consciência deixaria seu descanso e buscaria tormento? Não entendo esse tipo. É por atitudes como essas que reflito sobre a necessidade de autoafirmação das pessoas. Nunca entendi aqueles que fazem o bem somente para satisfazerem seus egos. Não, não sou assim.
Lá na praia permaneci até o cair do dia e a chegada do brilho das estrelas. A noite definitivamente é o melhor período para admirar o que o céu nos traz. Fiquei deitado por algumas horas desde o final da tarde, então considerei me levantar e esticar as pernas, caminhando um pouco. Recolhi minhas coisas e fui direto à ponta da praia, onde as águas batem e voltam numa rapidez e leveza incrível. Não esperava nada mais daquele dia, que já tinha me trazido a quietude que tanto precisava, mas, para minha surpresa, aquela criatura retornou, sozinha dessa vez.
Não vou revelar a conversa que tivemos, ela me disse para guardar segredo. Digo apenas que seu sorriso ao me ver me fascinou! Além disso, descobri que, na verdade, não tinha qualquer problema acontecendo, suas lágrimas durante a tarde foram de alegria ao me ver. Estranho, não acha? Eu nem conhecia esse broto… O que levaria alguém a sorrir sem te conhecer?
Mais tarde, próximo do horário de dormir, fiquei pensando sobre o que aconteceu naquele dia peculiar. Não conseguia compreender a ideia de alguém ficar contente apenas em te ver. Pensei, pensei e pensei. Nada vinha à mente. Desisti e fui ao banheiro ajeitar meus cabelos antes de dormir, como sempre faço, e… É isso! Como pude ser tão horrível? Como? A pequena criatura teria ficado feliz apenas por isso?
Realmente, não mereço ser chamado de humano. Um humano não deixaria de agir se visse uma criança chorando bem debaixo de seus olhos. Diferente de mim, aquele pequeno ser agiu como um verdadeiro humano. Sim, eu deveria aprender mais com ele. Afinal, não há nada mais leve e belo do que derramar lágrimas por ver alguém que possui os mesmos cabelos cacheados que você, não é?
Imagem: Marcelo Azeva
Publicado por Rocco Gasparini
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