Nunca estamos completamente satisfeitos, somos a geração que consome coisas antigas e caçoa de coisas novas. Estamos cansados do presente e muito preocupados com o futuro, e por isso o passado é nosso conforto. A anemonia é nosso maior sentimento, a saudade de um tempo que nunca vivemos.
Somos reféns da antiguidade e da eterna estética “vintage”, usamos ela como segurança para não lidarmos com o presente ou com um futuro tão tecnológico que parece irreal. A nostalgia restaurativa é o nome que damos para esse sentimento, conforme Hal McDonald, professor de letras e literatura da Mars Hill University na Carolina do Norte, esse tipo de nostalgia faz com que as pessoas fiquem presas no passado e o busquem de forma derrotista e potencialmente prejudicial.
A nostalgia nada mais é do que uma emoção que implica em comportamento que imaginamos ser inofensivos, mas sem a devida atenção pode se tornar excessivo e ser prejudicial à psique.
Uma das possíveis causas para isso pode ser o avanço desenfreado da tecnologia, que cria essa necessidade de ligação com as trends antigas. Há um conceito metafórico que pode ser aplicado para o desenvolvimento do lado negativo desse sentimento, que seria o entendimento que aplica o comportamento estereotipado em animais (zoochosis), aos seres humanos modernos, sugerindo que a permanência prolongada em uma forma de cativeiro não natural na sociedade contemporânea, leva ao desenvolvimento de transtorno de estresse pós-traumático complexo (TEPT-C) e a comportamentos repetitivos e autodestrutivos.
Esse “cativeiro” não é físico, como em um zoológico, mas psicológico e ambiental, surgindo da falta de conexão com a natureza, do excesso de rotina e do afastamento das necessidades inatas de movimento, brincadeira e contato com o ambiente selvagem que podem advir da distância criada pela internet e pela nostalgia restaurativa.
Em outras épocas essa influência era notoriamente diferente, uma vez que possuíamos menor acesso à tecnologia e internet e pelo contato maior que os indivíduos tinham em suas rotinas com a natureza e movimento.
É importante salientar que este conceito é somente uma metáfora para possibilidade de entendimento do que nos faz agir da maneira que agimos. Cabe a cada um de nós entendermos como esse sentimento afeta nossas vidas e suas origens. O termo clínico “zoochosis” originalmente descreve comportamento anormal repetitivo em animais em cativeiro e existe há décadas na literatura sobre bem-estar animal. Porém, sua aplicação metafórica a humanos é relativamente recente e se deu mais em ensaios, blogs, teses e materiais de divulgação.
Vivemos em uma era em que o passado serve de refúgio diante das incertezas do presente e do futuro. A nostalgia, quando cultivada de forma equilibrada, pode ser um elo afetivo com nossas memórias coletivas e uma fonte de identidade.
Contudo, quando se transforma em escapismo, pode aprisionar nossa percepção da realidade, impedindo o crescimento e a adaptação às mudanças inevitáveis. Reconhecer os limites entre o conforto e o aprisionamento emocional é essencial para que possamos usufruir do valor simbólico do passado sem perder o olhar crítico e consciente sobre o presente que habitamos e o futuro que ajudamos a construir.
Referências
JOHNSON, Nicole. Como a nostalgia pode nos ajudar a lidar com a pandemia. National Geographic Brasil, 17 ago. 2020. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/ciencia/2020/08/como-a-nostalgia-pode-nos-ajudar-a-lidar-com-a-pandemia
BBC. Como nostalgia deixou de ser considerada distúrbio psicológico e foi reconhecida como emoção. BBC Português, 24 maio.2024. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cyjj70mj8k9o
HEYDARI, Mehdi; OMIDIPOUR, Reza; GREENLEE, Jason. Biodiversity, a review of the concept, measurement, opportunities, and challenges. Journal of Wildlife and Biodiversity, v. 4, n. 4, 2020. DOI: https://doi.org/10.22120/jwb.2020.123209.1124. Disponível em: https://www.wildlife-biodiversity.com/index.php/jwb/article/view/71
Por Sarah Romeu Marques
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