Existem diversas operações que compõem a cadeia produtiva do mercado de varejo, um dos setores mais influentes da sociedade. Uma delas é o risco sacado, desenvolvido como uma operação financeira que assegura fluxo de caixa para pequenos fornecedores atenderem às demandas da grande rede. Diante desse negócio bancário, surge a necessidade de discutir sua aplicação atual no contexto econômico brasileiro.
Em primeiro lugar, é preciso definir, de maneira objetiva, o que configura o risco sacado na prática: forma de financiamento em que o fornecedor recebe liquidez imediata de uma venda feita a prazo, na qual quem garante o pagamento ao banco é o comprador.
No varejo, são solicitados aos pequenos fornecedores, demandas de produção com previsões de pagamentos posteriores ao prazo de recebimento, normalmente em torno de 90 a 120 dias. Desse modo, com o intuito de conseguir atender à solicitação feita pela grande rede, tendo em vista a ausência de fluxo de caixa, o pequeno fornecedor solicita o risco sacado ao banco, que assume o risco de crédito do varejista. Nesse contexto, o risco sacado permite transformar esse prazo longo em dinheiro rápido, sem depender de empréstimos bancários caros.
Em seguida, é importante entender a dimensão que essa operação possui no contexto econômico do país, onde gera discussões abrangentes sobre a incidência do procedimento financeiro na cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Parte defende que a operação se caracteriza como empréstimo e financiamento; logo, deveria ocorrer a incidência. Por outro lado, as entidades empresariais, como IDV defendem que é somente uma operação de cessão de crédito, portanto não deveria pagar IOF.
Atualmente, a isenção de IOF no risco sacado serve como medida paliativa, que garante aos pequenos fornecedores a renda necessária para continuar com as produções da indústria de varejo, além de manter o processo produtivo dos varejistas sem grandes rupturas. Contudo, é possível refletir se essa medida seria a mais efetiva para garantir a eficiência e os benefícios do fornecedor.
Isso porque, a longo prazo, esse procedimento financeiro reduz o ganho líquido do pequeno fornecedor, por meio de cobrar custeio financeiro oculto da taxa de antecipação, gerar dependência estrutural com o banco e por incentivar os prazos longos do varejo, que fortalecem o seu poder de barganha.
Outra alternativa, seria uma mudança estrutural na indústria do varejo, que assegura prazos mais curtos de pagamento ao fornecedor, no qual corrige o desequilíbrio do fluxo de caixa, uma vez que este seria cobrado diretamente com o varejista. Na situação apresentada, diminuir-se-iam as antecipações realizadas com o risco sacado, garantindo maior previsibilidade e justiça nas relações comerciais. A mudança já ocorreu em alguns países da União Europeia, onde foram estabelecidos limites legais de prazo de pagamento de, no máximo, 30 dias aos pequenos fornecedores.
Em resumo, por mais que o risco sacado seja uma das principais ferramentas financeiras pelas quais a cadeia econômica produtiva da indústria do varejo se estruture, torna-se necessário refletir sobre a atuação dessa operação na prática e sua influência para os pequenos fornecedores.
Por Sarah Romeu Marques
Referências:
Imagem de destaque retirada do site: https://www.assai.com.br/inauguracoes/assai-maria-lacerda-rn#galeria-16
O Globo. Conciliação no STF termina sem acordo entre Governo e Congresso sobre IOF. O Globo, 15 jul. 2025. Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2025/07/15/conciliacao-no-stf-termina-sem-acordo-entre-governo-e-congresso-sobre-iof.ghtml
BTG Pactual. Risco sacado: entenda a operação. Blog BTG Pactual, 2 jun. 2025. Disponível em: https://content.btgpactual.com/blog/empresas/risco-sacado-entenda-a-operacao
E-Commerce Brasil. Varejo sofre com custo de capital de giro após aumento do IOF. E-Commerce Brasil, 2 jun. 2025. Disponível em: https://www.ecommercebrasil.com.br/noticias/varejo-sofre-com-custo-de-capital-de-giro-apos-aumento-do-iof?utm_source=chatgpt.com
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