Nota de Posicionamento JP3 – Caso do Colégio Mackenzie

Em 29 de abril de 2025, uma estudante de 15 anos, bolsista do Colégio Presbiteriano Mackenzie, localizado em Higienópolis, São Paulo, foi encontrada desacordada no banheiro da escola. A jovem foi socorrida pela equipe médica da instituição e encaminhada à Santa Casa de Misericórdia, onde permanece internada.

De acordo com a família, a adolescente estava sendo alvo de ataques racistas, bullying e homofobia, promovidos por outros alunos, desde 2024. As agressões incluíam apelidos pejorativos como “cigarro queimado” e “lésbica preta”, além de comentários como “volta para a África”. Em um dos episódios, a estudante foi coagida a beijar um colega no banheiro, sob filmagens, para serem usadas como forma de chantagem e ameaça de divulgação nas redes sociais.

A mãe da aluna relatou que notificou a escola sobre esses ocorridos, mas que nenhuma providência efetiva foi tomada. Ela também buscou apoio psicológico para sua filha na instituição, porém nenhum atendimento foi realizado devido à falta de vagas. 

A Polícia Civil investiga o caso como tentativa de suicídio, apesar de que a família não descarta a possibilidade de tentativa de homicídio. Por isso, o celular da adolescente será periciado para auxiliar nas investigações. 

O Colégio Mackenzie informou que prestou os primeiros socorros à estudante e que a equipe de orientação educacional e a psicóloga escolar estão oferecendo ajuda à aluna e sua família. Além disso, a instituição afirma que, mesmo tendo sido proibida pela família de ter acesso ao local onde a jovem segue internada, está acompanhando o andamento do caso com responsabilidade e cuidado. Vale destacar que o colégio contesta, dizendo ter prestado suporte à aluna desde os primeiros relatos de bullying.

Toda essa situação gerou grande repercussão e aflorou debates sobre o racismo estrutural nas instituições de ensino, destacando a necessidade de políticas efetivas para a inclusão e para o combate à discriminação racial.

Diante dos fatos amplamente divulgados e que envolvem uma estudante de 15 anos, bolsista do Colégio Presbiteriano Mackenzie, encontramos dificuldades em expressar, com palavras suficientes, o pesar que nos atravessa como estudantes, comunicadores e, sobretudo, seres humanos.

O que aconteceu no dia 29 de abril de 2025, não pode ser tratado como um caso isolado, tampouco como algo que se apaga com o tempo. As alegações de racismo, bullying e homofobia evidenciam dores sociais profundas e silenciosas que, por vezes, passam despercebidas no cotidiano escolar, mas que deixam marcas  nas vítimas que jamais serão apagadas. 

Nos solidarizamos com a estudante e sua família, reconhecendo o sofrimento que relatos como esses carregam. Também compreendemos a responsabilidade das Instituições de ensino em acolher, proteger e acompanhar seus alunos em todas as dimensões: acadêmica, emocional e humana. 

Como veículo universitário, comprometido com a ética e a informação responsável, reafirmamos a importância de que o caso seja apurado com rigor pelas autoridades competentes e tratado com a devida sensibilidade por parte da comunidade escolar. Ao mesmo tempo, acreditamos na relevância de se fortalecer políticas de combate à discriminação, além de investir em canais efetivos de escuta e apoio psicológico dentro das instituições.

Sabemos que o caminho para uma educação verdadeiramente inclusiva e segura é desafiador, mas é também inegociável. Que este episódio nos invoque à reflexão e à ação – e que cada estudante, em qualquer espaço educacional, possa se sentir valorizado, respeitado e protegido em sua dignidade.

O episódio trágico traz à tona a necessidade de reiteração sobre a discussão da prática de bullying em qualquer ambiente, mas principalmente no contexto escolar. Sabe-se que o Estatuto da Criança e do Adolescente tem como cerne principal promover a garantia de direitos fundamentais como saúde, educação e lazer, protegendo as crianças e adolescentes com base no princípio da absoluta prioridade. Infelizmente, tal prerrogativa foi negligenciada ao se passar despercebido que condutas de humilhação e constrangimento estavam sendo reiteradamente direcionadas à aluna, o que motivou a clara violação ao seu bem estar, bem como a ausência de promoção de seus direitos fundamentais. 

É importante ressaltar que a conduta reiterada de atos que visam a opressão, humilhação e agressão no ambiente escolar é caracterizada como bullying, atitudes que são consideradas crimes desde o ano passado com a promulgação da lei 14.811/2024, sendo punidas com pena de retenção de dois a quatro anos ou multa. No entanto, o ideal é que a situação que se inicia com “brincadeiras” não se concretize de modo a constituir o crime, pois uma pena imposta pelo direito penal não apaga ou supre os efeitos permanentes que continuarão na vida da criança ofendida. 

Neste sentido, vale lembrar que tais efeitos não se resumem a danos físicos como as cicatrizes de agressões, o que já se constitui como conduta extremamente gravosa, mas também às marcas psicológicas dificilmente reparáveis e que moldarão a criança ou adolescente de modo traumático pelo resto de sua vida. O bullying deve ser amplamente combatido, mas como forma de profilaxia deve-se educar os jovens sobre a dimensão que comentários maldosos podem tomar na vida dos seres humanos, como ocorreu no recente caso. O fato do bullying ser crime e ensejar uma pena é pequeno quando comparado aos danos causados à criança e a dificuldade de reparação, se é que pode-se falar em tal possibilidade. Em razão disso, ressaltamos a obrigação de conscientização dos efeitos que a prática de humilhações causam e a necessidade do comprometimento de todos nessa missão.

Ademais, devemos lembrar da necessidade de empatia com as pessoas ao redor, afinal todos possuem fragilidades, inseguranças e medos, os quais não podem ser utilizados contra seu semelhante, em hipótese alguma. A conscientização sobre a igualdade enquanto seres humanos, apesar de diferenças físicas ou culturais, deve ser lembrada de forma sistemática, principalmente em um ambiente de formação educacional, responsável por moldar os adultos do futuro. Vale lembrar a importância do papel dos responsáveis legais, ao servirem de exemplo e espelho para a construção da essência de cada pequeno indivíduo.

Diante do exposto, evidenciamos que o combate ao bullying deve ser uma prioridade coletiva, envolvendo escolas, famílias e a sociedade como um todo. Mais do que punir, é preciso prevenir, educar e promover um ambiente de respeito e empatia, onde diferenças sejam celebradas e nunca utilizadas como motivo de opressão. A lei, embora necessária, não é suficiente para reverter os danos profundos causados pelas práticas de humilhação e violência psicológica. Portanto, é fundamental que cada indivíduo assuma sua responsabilidade nessa luta, agindo com consciência e solidariedade, para que casos trágicos como o mencionado não se repitam. Somente assim poderemos construir uma sociedade mais justa e acolhedora, onde crianças e adolescentes possam crescer livres de traumas e plenamente desenvolvidos em seus direitos fundamentais.

Publicado/Escrito/Editado pelo Jornal Prédio 3


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