Em memória de Arminda Pereira de Amorim Santos e Valdemar Dias Santos
Enquanto cristã, acredito na vida após a morte terrena (crença que tantas outras religiões compartilham). Professo a fé em uma morada eterna preparada por Deus Pai a todos os seus filhos amados. E essa certeza me consola de que meus entes queridos estão em um lugar melhor, livre de dor e sofrimento.
Porém, aqui na Terra, no momento da perda, ficam as netas, os irmãos, os sobrinhos e os amigos deles, com a saudade causada pela ausência.
É difícil conviver com a perda, mesmo com a fé na ressurreição. Há 7 dias, minha avó faleceu pouco mais de 12h após o meu avô. Casados por quase 60 anos (iriam completar 60 anos em novembro), nem na partida quiseram se separar. E, embora a partida tenha sido um alívio para o sofrimento de ambos e eles tenham vivido por 92 anos, ainda é difícil conviver com a perda.
Mas muitas vezes esquecemos da existência de uma segunda vida eterna: aquela que consiste nas memórias que permanecem nas mentes e nos corações de cada um de nós.
Por meio dessas memórias, meus avós vivem eternamente em mim. Minha avó vive em mim toda vez que como uma farofa (que, por sinal, eu amo) e a lembrança da deliciosa farofa que ela fazia, muito farta, me recorda que ela não queria que seus filhos e suas netas passassem fome como seus antepassados na juventude.
Meu avô vive em mim toda vez que vejo alguém fazer uma gambiarra, já que ele era o mestre do improviso. Qualquer garrafa PET e arame poderiam se transformar em um varal, um ventilador ou qualquer outro objeto que fosse necessário em casa.
Minha avó vive em mim toda vez que eu saio de casa com um casaco na bolsa, porque ela sempre dizia “não esquece o casaquinho, Nina!”. Quem diria que essa lição, que levo comigo, salvaria-me de passar frio no trabalho ou na faculdade, onde o ar condicionado é sempre gelado?
Meu avô vive em mim sempre que eu vejo um bombom Sonho de Valsa, o presente preferido dele para nós. Ele amava doces e amava fazer as netinhas felizes, então os bombons eram a combinação perfeita para isso.
Meus avós vivem em mim quando vejo uma família reunida em torno de uma mesa grande de madeira, quando ouço alguém falar português lusitano e quando sinto cheiro de uva (que eles cultivavam na área de casa): todos esses costumes que eles faziam questão de manter pelas raízes culturais que trouxeram para o Brasil.
E nesse momento tenho certeza que cada um de nós, que temos entes queridos já falecidos, recorda-se de inúmeros outros detalhes, acontecimentos, gestos e palavras que vivenciamos na presença deles e guardamos conosco. Mais do que isso, essas memórias são um pedaço de nós mesmos, da nossa essência.
Por isso, enquanto não os encontramos na vida eterna, resta-nos consolar com esse outro tipo de vida infinita: os pequenos pedaços deles que eles nos passaram e vivem dentro de nós mesmos eternamente.
Afinal, aqueles que nos amam nunca nos deixam de verdade, nós sempre podemos encontrá-los aqui mesmo na Terra, dentro dos nossos corações e das nossas mentes. Na esperança de, um dia, reencontrá-los na morada divina.
Publicado por Bruna Valêncio de Jesus Santos
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