É o Astro Rei

Fonte: edição e fotografia por Nathalia Souza Santos da Silva

É um astro 
Mas podemos chamar de Rei.  
Na quebrada a gente torce  
Para que ele reine um dia de cada vez.

Que a chuva se afaste  
De nossas casas simples,  
Mas a energia que nelas habita  
Nem se compara com o astro Rei

Pela tarde o Rei vai perdendo sua força.  
Perguntei ao professor o porquê.  
Ele disse:  
— É a ordem natural das coisas.  

Lembrei do Emicida, rapper da quebrada,  
Em seus versos ele diz:  
Que o sol só vem depois! 

Essas reflexões trazem lembranças,  
Quando pequena, pensava na imensidão do céu.  
Mal sabia eu que o Universo existe,  
E que é infinitamente maior do que tudo o que eu via.

O professor me apresentou um livro,  
Sapiens, o nome. Nele diz:  
“Há cerca de 13,5 bilhões de anos,  
A matéria, a energia, o tempo e o espaço surgiram  
Naquilo que chamamos de Big Bang.  
A história dessas características fundamentais  
Do nosso universo é chamada de física.”  

Comentei com os colegas:  
O universo é mesmo incrível,  
A física é fundamental.  
Quem sabe algum dia eu possa conhecer  
Ou até sair da Terra,  
Esquecer os problemas que nela habitam.  
Quem sabe algum dia possamos compreender  
A magnitude que nele existe.  
E o mais importante de tudo:  
Que eu nunca me esqueça das minhas origens,  
Da minha quebrada,  
Da Lua cheia clareando as ruas de Osasco,  
Da faxineira que entra no ônibus às 04h,  
E de Dona Damiana, mulher sábia que conhece a dor da saudade.  

Dona Damiana acorda tão cedo,  
Que ainda é madrugada,  
Não só pra ela,  
Mas para várias mães solos da minha quebrada.  
E o sol?  
Só vem depois,  
Essa é a ordem natural da Terra.  

Hoje, minha vida é parecida com a de Dona Damiana.  
Observo pela janela do ônibus e vejo  
Apenas as luzes de postes improvisados.  
Meu trajeto até o lugar onde dizem que serei alguém na vida é uma viagem.  
A fome, o cansaço e a incerteza  
São as únicas sensações que não me abandonam.  
Claro, não posso esquecer do Senhor Portuga, o motorista de ônibus.  
O Senhor Portuga dizia que meu rosto  
Era semelhante ao de Dona Damiana.  
Mal sabia Portuga que Dona Damiana  
Era minha coroa.  

Mulher negra e sábia que sempre dizia:  
“Gerei uma mulher forte.”  
Sim, Dona Damiana,  
Não vou desistir nessa madrugada por você.  
Senhor Portuga, espera um pouco,  
Corre, corre, corre 
Segura a porta do ônibus que estou chegando…  

Isso não é só sobre carinho e afeto,  
Mas também é sobre a falta disso tudo.

Por Nathalia Souza Santos da Silva


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