A Shein é uma varejista de compras on-line criada em 2008 com o objetivo de vender roupas de fast fashion com preços reduzidos em todo o mundo. Até 2020 era pouco conhecida, entretanto, ganhou destaque como uma potência na moda on-line, competindo diretamente com gigantes, como H&M e Zara. Mas sua habilidade em produzir e entregar peças de vestuário, além de acompanhar a moda jovem, principalmente, contrasta com as condições precárias de trabalho oferecidas aos seus funcionários.
“Toiling away for Shein: Looking behind the shiny façade of the Chinese ultra-fast fashion giant” é uma investigação conduzida pelo Public Eye, um grupo suíço de defesa dos direitos humanos, que revelou condições de trabalho alarmantes entre os fornecedores da Shein e em suas instalações. O primeiro relatório foi publicado em 2021, o qual constatou que os funcionários das fábricas fornecedoras da loja trabalham longos períodos, variando de 11 a 12 horas por dia, de seis a sete dias por semana – o que viola não somente as leis trabalhistas chinesas como o próprio Código de Conduta do Fornecedor da Shein.
Além disso, os centros de produção e armazenamento da Shein operam 24 horas por dia, 7 dias por semana, com turnos de trabalho de 12 horas sendo a norma. Os funcionários, ainda, enfrentam demissão por não atingirem metas de desempenho consideradas irreais.
E mais, a complexidade corporativa da Shein inclui o uso de entidades offshore para mascarar a propriedade e evitar impostos, uma prática comum na China, contribuindo para a falta de transparência em suas operações. Essas práticas também se estendem aos centros de logística da empresa na Bélgica, onde condições de trabalho complicadas e metas de desempenho absurdas são relatadas.
Pronunciamento da Shein
Com um assunto tão delicado vindo à tona, a Shein se pronunciou a respeito do relatório dizendo que muitas das alegações do Public Eye eram inverídicas e prometeu combater as jornadas excessivas em sua cadeia de abastecimento. Porém, em 2022, o documentário Inside the Shein Machine foi exibido no Channel 4 do Reino Unido, acusando fornecedores da Shein de exploração de trabalho, para os quais os funcionários supostamente trabalhavam até 18 horas diárias.
Em sua defesa, a varejista comunicou: “Continuaremos a fazer investimentos substanciais nessas áreas. […] Esses esforços já estão produzindo resultados, com nossas auditorias regulares aos fornecedores mostrando uma melhoria consistente no desempenho e conformidade por parte de nossos parceiros fornecedores”.
Promessas não cumpridas
Passados mais de dois anos da primeira investigação do Public Eye, um outro relatório foi emitido pelo grupo suíço em abril de 2024, constatando que as horas excessivas de trabalho e os salários baixos continuam a acontecer. As auditorias prometidas pela Shein foram consideradas falhas, pois não mencionam as horas de trabalho nem mesmo os salários baixos, levantando sérias dúvidas sobre a integridade e a eficácia desses esforços da empresa.
De acordo com o Public Eye, a Shein opera seu modelo de negócios visando assumir o mínimo de responsabilidade possível, motivo pelo qual há um apelo por maior transparência na cadeia de abastecimento e diretrizes políticas sobre responsabilidade corporativa para combater essas práticas.
“Os políticos estão alarmados, mas ainda não tomaram nenhuma medida (por enquanto). A falta de mudança em termos de horas extras excessivas e outras descobertas de nossas investigações indicam: a Shein só assumirá mais responsabilidade social quando estiver sujeita a pressões externas. Um IPO forçaria a empresa de moda descartável a se tornar mais sustentável? Dificilmente. Os recentes investimentos bilionários mostram que ainda há apoiadores suficientes que veem o modelo de negócios da Shein como uma oportunidade de lucro e que não consideram o greenwashing como um risco de investimento.” – destacou o grupo.
Apesar da notável expansão da Shein e da impressionante capacidade de se atualizar às tendências da moda, que lhe permite transformar designs em produtos acabados em tempo ágil, o cenário das suas instalações de produção esconde uma série de desafios e questões preocupantes.
As entrevistas conduzidas com os funcionários oferecem uma visão sombria das longas e extenuantes jornadas de trabalho que caracterizam o dia-a-dia nessas fábricas. Condições estas que são agravadas pela persistência de salários insuficientes, que, apesar de algumas variações entre fábricas e estações, permanecem consistentemente em níveis precários, proporcionando aos trabalhadores uma remuneração que mal cobre suas necessidades básicas.
Há, ainda, a falta de transparência acerca da estrutura corporativa da Shein, como o paradeiro de seu fundador e os números de faturamento questionáveis, que adicionam mais uma camada de incerteza sobre as práticas da empresa. Essas descobertas levantam sérias preocupações sobre a integridade e a responsabilidade social corporativa da Shein, sugerindo que a empresa continua a priorizar os lucros sobre as condições de trabalho dignas e a sustentabilidade, à custa do bem-estar de seus trabalhadores.
Em face dessas revelações, urge a necessidade de uma maior responsabilidade corporativa na indústria da fast fashion, juntamente à implementação de melhores condições de trabalho para os funcionários e uma maior transparência em toda a linha de produção, pois somente com uma ação regulatória mais significativa e um compromisso genuíno com a justiça social e ambiental por parte das empresas do setor, é que será possível efetuar mudanças reais e positivas.
Para ler os relatórios completos da investigação, acesse o site do Public Eye.
Por Marina Barbosa
REFERÊNCIAS
“Após Shein prometer combater trabalho excessivo, relatório cita semanas de 75 horas na empresa”. Publicado pela CNN, em 13 de maio de 2024.
“Interviews with factory employees refute Shein’s promises to make improvements” Publicado por Public Eye, em 14 de maio de 2024.
“Toiling away for Shein: Looking behind the shiny façade of the Chinese “ultra-fast fashion” giant”. Publicado por Public Eye, em novembro de 2021.
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