Os problemas do analfabetismo funcional no Brasil

Na obra literária Vidas Secas (1938) de Graciliano Ramos, é retratada a vida de uma família nordestina que enfrenta os desafios da pobreza e da seca do sertão. Apesar de as singularidades entre os personagens e suas frustrações e desejos internos, faz-se interessante a atmosfera do subconsciente do pai Fabiano, que constantemente se frustra por não saber se expressar com o uso das palavras, assim como o sentimento de inferiorização perante as autoridades do nordeste pela falta de conhecimento linguístico, tornando-o alvo de humilhação por parte dos oficiais retratados no livro. Inconscientemente, Graciliano denunciava uma questão que só viria a ter denominação exata no século seguinte à sua obra, o analfabetismo funcional, um dos grandes problemas da sociedade brasileira.

O QUE É

Primeiramente, destaca-se que a definição de analfabetismo se dá em duas facetas principais. De acordo com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o analfabetismo absoluto contempla o indivíduo sem conhecimento sobre o alfabeto, sem capacidade de identificar os signos linguísticos que formam as sentenças.

Por outro lado, o analfabetismo funcional engloba os cidadãos que, mesmo o conhecendo, não compreendem os textos que exijam compreensão gramatical. Manifesta-se como uma situação de não saber aplicar os conhecimentos aprendidos, ou captar o contexto do que se diz.

RAÍZES E RESULTADOS

Vale ressaltar que o analfabetismo social é presente na sociedade brasileira e é um reflexo vívido da baixa qualidade na educação brasileira. Segundo a pesquisa de 2018 do INAF (Indicador de Alfabetismo Funcional), 29% da população possui dificuldade na interpretação de textos simples e contas operacionais cotidianas, por não obterem aprofundamento e acompanhamento em seu processo de aprendizagem, refletindo na vida adulta um indivíduo com dificuldades em se inserir no mercado de trabalho. 

Para o educador Paulo Freire, essa condição se faz um reflexo da injustiça social do contexto brasileiro com as camadas mais pobres da sociedade, sendo apresentadas a uma alfabetização precária e carente de reflexão. Com isso, conclui-se que o analfabetismo funcional é atrelado à realidade do país, dando-se de maneira absoluta ou parcial.

Outrossim, o analfabetismo funcional se dá principalmente nas camadas pobres da sociedade, excluindo além de financeiramente, intelectualmente esses indivíduos do contexto social. Conforme o Portal FioCruz, cerca de 4,3 milhões de crianças de 5 a 17 anos trabalham no Brasil, o que as impede de frequentarem a escola ou torna seu rendimento ruim, por não poderem se dedicar aos estudos, constituindo um ciclo vicioso por não conseguirem novas oportunidades por meio da educação, voltando à situação de origem. 

O QUE ELE ACARRETA?

Como exposto, o analfabetismo social gera uma espécie de ciclo vicioso nas camadas menos favorecidas do país, mas para além do âmbito individual, afeta o corpo social como um todo. Segundo o portal do G1, o Analfabetismo Funcional afeta 29% da sociedade brasileira, prejudicando a busca por empregos e a ascensão no mercado de trabalho, assim como a vida íntima e financeira dessas pessoas, compactuando com o atraso educacional crônico do país. Logo, constata-se um grande contingente de cidadãos atingidos por essa questão nociva à dignidade humana.

REFERÊNCIAS

Analfabetismo no Brasil. Publicado por Brasil Escola, sem data definida.

Analfabetismo funcional atinge 29% da população brasileira. Publicado por G1, em novembro de 2021. 

Analfabetismo Funcional. Publicado por Portal FioCruz, em agosto de 2017.

Publicado por Giovanna Oliveira Cordeiro


Siga o JP3!

Instagram: @jornalpredio3

Facebook: fb.com/jornalpredio3


Mais notícias e informações: 


O Jornal Prédio 3 – JP3, fundado em 2017, é o periódico on-line dos alunos da Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, organizado por alunos do curso e com contribuição de toda a comunidade acadêmica mackenzista. Participe!

Deixe um comentário

Crie um site ou blog no WordPress.com

Acima ↑