Futebol Feminino: História e Impactos Atuais

Com o início da Copa do Mundo Feminina da FIFA™, a qual terá duração de 1 mês, entre 20 de julho e 20 de agosto de 2023, muito se percebe das disparidades entre público, mídia, movimentação social e patrocínios entre o esporte na modalidade feminina e masculina. Diante desse cenário, trago uma análise histórica e contemporânea sobre o Futebol Feminino e sua ofuscação e descrédito no cenário brasileiro.

Para trazer embasamento ao presente texto, durante a semana de 17 de julho, realizei uma pesquisa entre homens, mulheres e não-binários sobre diversas questões relacionadas ao futebol. A pesquisa traz as respostas de 35 mulheres e 68 homens e nenhum não-binário, totalizando 103 pessoas que deram as respostas a seguir descritas:

Segundo os gráficos apresentados, faz-se notório que apesar de algumas pessoas assistirem as partidas femininas pela televisão, poucos se deslocaram até os estádios de futebol. Isso se confirma quando vemos as superlotações em campeonatos regionais como o “Paulistão” ou até nacionais como “A copa do Brasil”, em disparidade com a pouca adesão que os jogos femininos possuem em estádios. Como motivação para tal acontecimento, o texto ilustra razões históricas, políticas e econômicas, mas é interessante que na pesquisa realizada 62,1% das respostas consideraram o futebol masculino superior em nível técnico ao feminino, até mesmo aqueles que nunca assistiram a uma partida consideram isso, as razões para tal achismo também se encontram no texto que segue a pesquisa.

Além disso, a pesquisa anônima pediu que as pessoas especificassem apenas seu gênero, para filtrar melhor as perguntas e trazer os dados a seguir:

Percebe-se que desde a infância, o futebol masculino é muito mais incentivado tanto por parte da família quanto pelas escolas, enquanto o mesmo esporte, para a população feminina, tem incentivo em pequena parte da família ou escola, prevalecendo a maioria como não.

Além disso, 98,5% dos homens que responderam a pesquisa já participaram de uma partida de futebol e, destes, 63,2% se consideram bons no esporte, enquanto apenas 71,4% mulheres responderam que já participaram de uma partida e, dessas respostas, nenhuma se considerou boa no futebol.

Até mesmo entre aqueles que não jogam ativamente, nota-se uma grande disparidade entre homens que assistem e se interessam pelo futebol em relação às mulheres, que configuram um número relativamente menor ou que acompanham às vezes. Tal razão se justifica na infância, considerando que  desde meninas, elas nunca receberam incentivo para a prática de tal modalidade, enquanto os homens, desde crianças, são incentivados a gostarem e praticarem, além de ser um grande fator de integração dos homens durante a infância.

A HISTÓRIA DO FUTEBOL FEMININO NO BRASIL

Os primeiros registros do futebol feminino brasileiro datam os anos 20, nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte. Os circos dessas regiões começaram a trazer os termos “futebol feminino” como uma espécie de performance, não como o esporte propriamente dito.

Em meados de 1940, apesar de não estar ainda proibido em lei, o esporte era considerado violento e indicado apenas para homens. Longe dos clubes e grandes ligas, as mulheres praticavam o esporte, em grande parte, nas periferias. Uma grande ameaça de mudança dessa situação foi no mesmo ano, quando ocorreu uma partida de futebol feminino no estádio do Pacaembu. O jogo gerou revolta na sociedade, o que fez com que, em 1941, mulheres fossem proibidas de praticar o esporte pela regulamentação do esporte no Brasil. E foi somente em 1979 que obtiveram liberação para a realização dos jogos, que eram até então proibidos como um todo.

A proibição foi dada pelo decreto lei 3.199 de 1941, que dizia em seu artigo 54 “às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”. Entretanto, não se tem registros de mulheres presas por violar tal ordem, pois eram detidas e liberadas após prestarem depoimento.

Matéria no jornal ‘O Imparcial’ em 1941 sobre futebol feminino — Foto: ACERVO DA FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL – BRASIL

Dias antes da emblemática partida no estádio do Pacaembu, o cidadão carioca José Fuzeira endereçou diretamente ao presidente Vargas uma carta que teve seu discurso como base para a criação do decreto. Nele, José argumentava que o esporte poderia afetar seriamente o “equilíbrio psicológico e funções orgânicas das mulheres, assim como prejudicar sua capacidade de serem mães”. O cidadão não se baseou em nenhum estudo científico para dizer que o esporte poderia afetar a capacidade gestacional das mulheres, além de sequer considerar a possibilidade das mulheres optarem por não engravidar, o que não é realidade nos dias atuais, com cada vez mais mulheres optando por não terem filhos.

Mesmo com a proibição, muitas mulheres não deixaram de jogar e criaram estratégias para ludibriar a lei, como se vestirem de homens e jogarem à noite em espaços privados. Mesmo assim, o período de proibição afetou profundamente o desenvolvimento do esporte na modalidade feminina no país.

TRATA-SE APENAS DE TÉCNICA?

O vídeo a seguir ilustra a campanha publicitária realizada pela Orange, uma empresa de telecomunicações na França, em apoio à participação da Seleção da França na Copa do Mundo Feminina 2023.

Na propaganda, é possível perceber como lances incríveis, aplaudidos quando supostamente feitos por jogadores franceses, chocam as pessoas quando mostram-se na realidade feito por mulheres. A campanha teve o intuito de mostrar que as pessoas deveriam apoiar o futebol da França independentemente de quem estivesse jogando, o que serve de parâmetro para analisar a situação no Brasil, quando se vê jogadoras extremamente qualificadas com pouca visibilidade.

Um antigo debate sobre o assunto se debruça sobre a jogadora de futebol Marta (brasileira), eleita 6 vezes a melhor jogadora de futebol do mundo pela FIFA, ganhando em média 4% do salário do jogador Neymar, que nunca ganhou o prêmio. Muitos dizem que o salário se dá pela adesão do público aos jogos masculinos ser muito superior aos jogos femininos, mas deve-se levar em conta a motivação para tal feito. Desde o incentivo da mídia, do molde estrutural imposto para a criança desde pequena ao famoso debate sobre meninas brincarem apenas de boneca e meninos brincarem de bola e carrinho, todos esses fatores fazem com que a população crie uma barreira com esse esporte na modalidade feminina, até mesmo nos dias atuais.

Na madrugada de estreia da Copa do Mundo Feminina, o streamer Casimiro, em sua transmissão da CazéTV, narrava o jogo de abertura da Noruega X Nova Zelândia com mais 3 comentaristas quando teve que desativar o chat de comentários da live, após diversos comentários machistas, debochando das jogadoras, humilhando-as, fazendo conotações sexuais e falando até mesmo que o youtuber teria se rendido a “lacração”, o que fez com que logo ao início do 2º (segundo) tempo, não fosse mais possível comentar na live.

Diante do exposto, percebe-se uma sociedade que, mesmo diante de avanços legislativos, ainda possui um pensamento arcaico e machista, o que atrasa o desenvolvimento da sociedade como um todo, diante de mentalidades retrógradas e que se assemelham aos pensamentos de 1941.

REFERÊNCIAS

Futebol feminino: os pretextos usados para proibir prática no Brasil e em outros países, Publicado por G1, em 20/07/2023

Copa do Mundo Feminina: Transmissão da CazéTV desativa chat após chuva de comentários machistas, Publicado por Terra, em 20/07/2023

Copa do Mundo Feminina: tudo o que você precisa saber sobre o torneio que começa nesta quinta, Publicado pela CNN, em 19/07/2023

Pesquisa reforça que futebol feminino precisa de incentivos para levar público aos estádios, Publicado pela CNN, em 15/04/2023

Marta ganha menos de 1% que Neymar: disparidade salarial nos gramados volta ao debate com Copa Feminina, Publicado por InfoMoney, em 07/07/2023

A história do futebol feminino no Brasil, Publicado por GE, em julho de 2023

Publicado por Giovanna Oliveira Cordeiro


Siga o JP3!

Instagram: @jornalpredio3

Facebook: fb.com/jornalpredio3


Mais notícias e informações: 


O Jornal Prédio 3 – JP3, fundado em 2017, é o periódico on-line dos alunos da Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, organizado por alunos do curso e com contribuição de toda a comunidade acadêmica mackenzista. Participe!

Deixe um comentário

Crie um site ou blog no WordPress.com

Acima ↑